quinta-feira, junho 26, 2008

Pegadas poéticas

Um poema em cada passo,
em cada esquina um romance,
uma obra feito uma estrada.
Uma alma desesperada, uma dobra
desnudada, uma falta de pegada,
pés,
para quais pés esse olhar desatinado
para qual trilha essa palavra
pés,
para que pés se nenhuma pedra fora pisada
para que antes se depois é nada
???
Um poema em cada passo,
em cada salto um conto
e um espanto narrado num canto.

Devias saber:
a literatura é uma pegada!


sexta-feira, junho 20, 2008

Sobre Tuas Sombras



Sobre tuas sombras avancei
teimando invandir o mundo
em cada imagem projetei
o meu desejo mais profundo
e agora movo outros poemas
no intento do futuro
construindo outro esquema
derrubando novos muros!





meu primeiro filho,
meu primeiro livro!
Obrigado Sandra, obrigado Mira!

prensamentos

No fim eu quero ter certeza
que errei,
que amei,
que sorri,
que chorei!

No fim eu quero me lembrar
que você foi o maior amor,
(os maiores nem sempre são os melhores)
mesmo que não me sirva mais,
e à noite eu pensava em você
para ter a certeza que cheguei ao fim!

Três poemas de amor, três vozes a cantar


RECONHECIMENTO DO AMOR




Amiga, como são desnorteantes
Os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
Onde se reclina a inquietação do forte
(Ou que forte se pensa ingenuamente).
Trazias nos olhos pensativos
A bruma da renúncia:
Não querias a vida plena,
Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
Não pedias nada,
Não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.

Descansei em ti meu feixe de desencontros
E de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
Sadicamente massacrar-se
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
Desde a hora do nascimento,
Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
Ou mais longe, desde aquele momento intemporal
Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
No caos universal

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
E a pura essência em que nos transmutamos dispensa
Alegorias, circunstâncias, referências temporais,
Imaginações oníricas,
O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
Todas as imposturas da razão e da experiência,
Para existir em si e por si,
À revelia de corpos amantes,
Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.

Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.




Carlos Drummond de Andrade





De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.


Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.


Pablo Neruda







LIRA I


Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d'expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado,

Tenho próprio casal, e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;

Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!



Eu vi meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os Pastores, que habitam este monte,

Respeitam o poder do meu cajado:

Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste:

Ao som dela conserto a voz celeste;

Nem canto letra, que não seja minha.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!



Irás divertir-te na floresta,

Sustentada, Marília, no meu braço;

Ali descansarei a quente sesta,

Dormindo um leve sono em teu regaço.

Enquanto a luta jogam os Pastores,

E emparelhados correm nas campinas,

Toucarei teus cabelos de boninas,

Nos troncos gravarei os teus louvores.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!




Tomás Antônio Gonzaga

quinta-feira, junho 19, 2008

metapoética

Entre algumas palavras eu sou mais solidão,
eu sou mais frio e mais distante.
Entre algumas palavras se resume o mundo
e fazemos de conta que não há mundo algum,
não há nenhuma palavra ou ruído,
tudo é escuro e poroso
e se enche de água quando há chuvas alongadas.
Mas não há salvação para esses gestos entrepostos: sabias de tudo e já não me contara!
Entre dois signos dissolvidos na ausência de sentidos,
entre duas mulharas transitivas eu sou mais vazio,
eu sou mais velho e perpetuo escrituras
à luz de velas, comuns, como as de um velório.
Não é preciso trazer coisas desconhecidas soletradas:
eu tenho minhas entradas queridas e miro
longas planícies de sentimentalidades.
Entre essas e estas e aquelas que nunca me bastam de todo
eu construo a minha defesa mas precisa,
o meu ataque mas certeiro,
a minha tática atípica:
enquanto escrevo, fico um ponto do meio!

segunda-feira, junho 16, 2008

! Imagina-ções !

Eu imagino
seus passos sem pegadas
calando no chão
uma memória
uma passagem descalça!

Eu imagino
suas ruas preferidas
iluminadas na noite
uma demora
uma paisagem desnuda!

Eu imagino
uma imaginação
de percuso
um curso
alterado pelo pulso!

quinta-feira, junho 12, 2008

! !




Silenciosamente
o amor
se espalha pelo o corpo!

quarta-feira, junho 11, 2008

... sobre esperas ...

Para esperar enquanto volta
perca a ótica da busca,
perca o tremor da descoberta
para esperar enquanto corpo
que repousa algumas frutas
ora verdes, ora desfeitas
de sabor, apodrecidas...
apodrecidas...
Quem esperar alcançará o olhar
depois do horizonte,
onde, preso, plantaria alguma sombra
que se faria no caos do tempo,
depois das chuvas, dos sóis ardentes
que o não esperam, não esperaram...
Para esperar diga que ficará
com as palavras e a solidão:
esta que virá, essas que virão!

domingo, junho 08, 2008

Bípede

a Samson Flexor



"O olhar interior é muito mais audacioso"*
e quando falo olhar
deixo de olhos, vou à filosofia dos relevos

mirantes

azul como a borda da tua irís
como as vazões de ocre
e traços negros e rachaduras
uma aquarela de dois passos
uma semelhante forma endurecida
como uma raiz

morta

tocando minha mira com minerialidade
que protege o ventre
que protege a geometria
nascitura
sensual e desmedida
na delicadeza de Flexor
na adoração ao interior de cada suspiro
com muito cuidado
e com audácia!




ricardo aquino


*Citação de Nietzsche

sexta-feira, junho 06, 2008

Eu também duvideodó!

Gostaria somente de conferir uma breve homenagem à crônica de Fernando Brant, que foi publicada no Jornal Estado de Minas, no caderno de Cultura, na quarta-feira dia 28 de maio de 2008. Tenho acompanhado os seus relatos do mundo, da vida, dos trens que o cercam e posso afirmar que essa crônica, decerto, foi muito especial. Não somente para mim, que como ele fui guiado por poemas lindíssimos do Drummond, mas para todos que puderam compartilhar dessa reflexão. O engraçado que todos que começaram sua vida literária aos passos contidos do grande poeta acabaram, de alguma maneira, escrevendo para outrens. Essa é a maior prova de que esse poeta que tinha "apenas duas mãos e o sentimento do mundo" não se adequa à imagem fria e paralítica de uma estátua de bronze, vive por aí em nós, em nossos sonhos e em nossos olhares. Mas essa homenagem não é a Carlos Drummond de Andrade, mas ao poeta e escritor e crônista e compositor Fernando Brant, àquele que é capaz de me levar longe e de me fazer imaginar sonhos antigos. É-me dado de presente toda quarta-feira uma viagem sem rumo. Obrigado meu caro Fernando!
E para voltar ao mundo dos sonhos, entre acordes de Toninho, ouço Diana enquanto escrevo!

quarta-feira, junho 04, 2008

Pretérito Perfeito

Quem poderia



Depois de tanta espera
quem poderia suportar
a palavra dita.
Depois de tanto, de tanto
esperar pela felicidade:
ela silencia
e deixa as mãos desprotegidas,
e deixa os olhos conturbados
de amor e destino.
Depois de ainda ser menino
quem me poderia segurar
o corpo frágil.
Quem poderia além da dona
do meu pulso e do meu impulso
maltratar-me a alma?
E por ser a mulher mais mulher
de uma tentativa de ser e de corromper-me...
resistir, quem poderia?
Quem poderia não se entregar
a dança do universo infinito
depois de tanta espera.

terça-feira, junho 03, 2008

Pretéritos Perfeitos

Vou começar aqui uma série confessional intitulada Pretéritos Perfeitos. Isso por que estou me sentindo lentamente indo e gradualmente me desfazendo em pequenices e em míseras utopias. Para começar, encontrei um e-mail de amor chorado, cheio de dor e lamentos. Começo por ele por que a minha visão do mundo começou a mudar a partir desse momento especial. Sabem como são os sonhos, nascem de especialidades!





"Meu amor,
esta mensagem deve ser triste por que estou triste! Ver você e não lhe ter, foi o que eu precisava para me perder e tentar me encontrar! Eu sei que eu te amo muito e que você não saiu da minha cabeça até agora. Não consigo pensar em nada que não esbarre em você! Estou tentando não conversar com as pessoas para não falar seu nome a cada frase. Fiquei muito feliz naquele dia e entendi por que: eu iria lhe encontrar! Era a coisa mais importante para mim, esperei muito pelo FIT e tal, mas não estava ali pela noite, mas por você. Não há um segundo que eu me desprenda das lembranças e não há ninguém que me faça sorrir. Está doendo muito! Eu não sei o que aconteceu, foi atropelado por um caminhão que eu não sei de onde saiu. De repente eu voava e de repente já não tinha asas, só o chão! Isso está me rasguando, consumindo meus dias e minhas noites. Só consigo ouvir duas músicas, a que você canta (mas não dá mais para ouvir na sua voz) e Trampolim do moska! Naquela noite eu fiz tudo para tentar te amar, te cutucava, encostava de bobeira, te olhava, não sei... não consegui! Tinha vontade de nunca chegar a casa da Lê!
Aqui há tanto amor, tanto!
Sabe, ter você foi mágico, cada segundo... "acordar sem vc é estar cego no amanhecer". Você se lembra da primeira música que você me mandou? Eu morro cada vez que a ouço... Estou sofrendo muito, minha branquinha. Desculpa, tinha que desabafar com você! Se você não estivesse com o seu amigo eu teria desabafado ali. Não queria acabar com a noite de ninguém, principalmente a sua, que eu amo tanto. Eu te prometo, você não vai mais me ler ou ouvir falar disso mais. Vou sofrer tudo, até o limite... mas eu vou me recuperar! Vou ainda dar orgulho aos meus... assim espero! Vou ficar mal e vou ficar bem!
Enviei para você uns poemas. Os poemas Um Pouco e Psiquê e Frenesi, são poemas mais velhos mas que me fazem lembrar de você! Os outros são feitos, como tudo que faço e escrevo, pensando em você, para você! Ah, e eu menti! Aquela letra que eu lhe escrevi no bar, no "La Grepia" foi feita ali... Desculpa ter mentido, mas eu estou com medo! Medo de viver daqui para frente com essa dor! Queria estar aí te abraçando daquele jeito que a gente fazia, sem separar, com você pisando em meus pés e dançando... O que o amor nos faz! Ah! O que o amor nos faz! O que está fazendo em mim!
Assim me despeço de você:
Eu te amo! Eu te amo! Eu te adoro! Eu te quero tanto!
Vou me lembrar de você por toda minha vida, a mulher que me teve por inteiro, sem divisas. É por isso que eu te agradeço, tudo que você me deu e até tudo que você me tomou! Até algum dia...
E não esqueça dos foguetos e fogos de artifícios!"


Que coisa hein? Isso foi há um bom tempo! Amar é muito bom e como dizia o poetinha, "quem não sofreu as dores do amor, não viveu, não amou!"

OBS: nenhuma postagem trará nomes, o que importa aqui são os textos e as passagens do passado.

segunda-feira, junho 02, 2008

.quando o desejo faz poesia.

a Nina


Todo poema nascituro esparra em teu ser.

O poema vem donde o olhar tateia.

Toda palavra tem teu cheiro e teu gosto.

A poesia quer sentir as tuas camadas.

Já o poeta pretende o teu núcleo!