sábado, outubro 31, 2009

personagem





Eu te menti,
Tu me mentiste.
Nós nos mentimos.
Nós nos metemos
onde não fomos chamados.


Eu – sem querer – te desmenti.
Tu – então – te espantaste.
Ruíam as tuas bases,
perdias a tua geografia.
Ousaste de súbito uma pirueta,
cantaste delírios proféticos.
Entregaste os pontos que nos atavam:
foste se afastando,
afastando,
fastando...
um dia não eras!


Nossos personagens percebiam:
esquecíamos
na verdade
nossa história!

quinta-feira, outubro 29, 2009

do ao pelo como

Eu provo do sangue, do vinho,
da água que arde na boca agreste...

Eu rogo ao tempo, ao vento,
aos cinco elementos, ao raio de leste...

Eu juro pelo calendário, pelo sacro rosário,
pelos ritos de maio, pelo lácio da última flor...

Eu vivo como um desafio, como um desatino,
como um sutil artifício do amor...

sexta-feira, outubro 16, 2009

Mudança de planos

Eis o código:

quando a noite chegar
faremos sombras,
quando amanhecer
desenharemos sonhos!

quinta-feira, outubro 15, 2009

- !







Estou ligado à fonte de tudo
como a você,
como você também está ligada
e como eu acredito:
essa corrente mantenedora
de todo amor, de todo ódio,
de toda iluminação!

Tremo entre mim:
a energia do corpo,
meu abrigo, teima ambígua
em tantas camadas,
em tantos tecidos,
em tantos sentidos
que nunca adormecem
nem tentam destinos.

Estou conectado àlgum ponto
tão infinito quanto um sonho
de tantas gerações e de tanta vida
esquecida
lapidada.

Estou ligado à fonte de coisas,
com olhos de coisas,
com coisas de signos,
uma superfície branca de coisas
(de coisas mais profundas)
que em mim alimentam as correntes
que contínuas se alternam
em busca
(não de uma caligrafia)
talvez de um detalhe
às possibilidades
de tudo que possa
inexplicavelmente iluminar!

segunda-feira, outubro 05, 2009

pequena pausa

coisas do tipo me acometem. Sei que
as rochas ganham formas e contornos no choque com o mar.
mas a quem o anúncio de formas pretenciosas é mais chão.
contudo o mar que cerca esse corpo é feito de rochas e vegetos.
a espinha de Minas passa ao meu lado,
o sol se põem mais alto, as formas... quem dirá das formas?
cada nuvem traz a sua forma e é uma questão tão de vento e céu.
tão passageiro que não se pode reduzir a nada
e se reduz em chuva, torna a sede, lava.
coisas do tipo acometem, cometem céus.
sei que, os grãos estão nascituros, férteis revelarão outros formas
e teremos sempre mais contornos.
acometem-me coisas do tipo:
eu também erro, eu também falo coisas desajeitadas,
como todos
eu também aprendo!

agora um silêncio...

... adiós!


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sábado, outubro 03, 2009

a Primavera

Chega de mansinho a primavera,
no caminho para as borboletas,
chega de vermelho tom de rosa
e rosa no frescor do jardim.

Chega assim, com ipês amarelos,
com o lilás das buganvílias,
com os cravos sortidos e as alvas margaridas.

Chega de botão em botão a desabrochar,
com um ar de pólen no ar,
com pássaros diluindo no céu
plumas e cantos de açucena.

Chega num poema atrasado,
de begônias abertas e amores-perfeitos,
com motivos de lírios e dálias.

Chega com rubros de tulipa
e claros de dama em noite de baile,
chega com toques de gardênia,
com luzes de girassol
e com bailes de verônica.

Chega de mansinho, a primavera,
no caminho dos insetos que zunem
na manhã colorida da estação secreta
da vida!

quinta-feira, outubro 01, 2009

Manifesto palavrar espacial

Há (será?) espaço e palavra!
Haverá espaço para a palavra nascente
como adjunto do corpo e mente?
Pensada a palavra tem vez na tez,
no talvez da lente, no reflexo do flash?
A palavra no quadro falso negro,
no centro negro – palavra escura,
palavra de pensar em volta
palavra de revolta que volta impura.
A palavra fétida eclodindo do bueiro,
a céu aberto a palavra escorre
decorre sobre horas, filos, rios...
A Palavra que há sentida
e refletida tarda o rasgo da amarra.
A Palavra de Huang Che tem pegadas de estrelas
e revira o espaço sideral.
A palavra escrita não se explica, não se aplica...
nem Lacan, nem Bakhtin ou/e outras teorias.
Nem o talvez do sim e enfim o não do nada...
A palavra lavra, é larva descendo
um dia vai queimar o que não for pedra
a pedra tornará a ser o que não fora
e restará o que se pensa ser o mito.
É preciso construir a palavra como um baluarte,
uma represa, um farol, um moinho
Um símbolo despido do símbolo...
será impossível?
A palavra se denuncia na fala, no plano
do plano espacial.
Quer seja escrita, quer seja escrota,
quer seja rota e quer seja nova...
quer seja igual verbo e o verbo seja distinto:
a palavra é o ponto
e o ponto é infinito!