sexta-feira, dezembro 13, 2013

responde-me




O que te faz olhar tão longe?
Os ciclopentanoperidrofenatrenos?
O cheiro de incenso?


O que te faz caminhar tão triste?
Os sapatos apertados?
Um pouco do ocaso?


O que te faz viver tão rápido?
O relógio antecipado?
O amor agendado?


O que te faz mudar de lado?
O que te faz sorrir arames?
Auri sacra fames?


Quando estarás livre, olhar-me de perto?
Feliz, caminhar calmamente?
Quanto terás algo permanente?




II



Perguntas exigem respostas,
responde-me!



Faz-se silêncio, senhora,
escondo-me!



Se te calas,
eu bem sei o que aconteceu.



Na verdade
a pergunta já me respondeu!

terça-feira, dezembro 10, 2013

o sonho (mensagem de nuvens)




Noturno entre foscas luzes,
tremor desfigurante de uma lenda.
Você me percebe perdido na sombra
                                                      da melodia
e eu percebo em seus lábios a flor proibida.
Tudo se faz confuso:
não há paisagem fixa,
o tempo nos aproxima,
a razão jorra em nós um líquido inflamável
e queimamos o coração ao nos ocultarmos.
Ouço vozes submersas,
esbarro em seres soturnos
no vazio que sabem da noite.

Nunca houve tempo para o nunca!

Encosto em você meu sempre,
você sussurra ferozmente em mim
belas palavras proibidas
e em seus braços uma estrela amanhece neutra
virgem e pura: uma escultura,
                                            você!
Ah! Neste meu olhar não há limites sobre seu olhar.
Devagar eu lhe beijo a flor encarnada,
como um derradeiro soluço de vida,
como se o corpo já fosse algo mais que um corpo.
Demoro meus lábios em seus lábios,
resgato em sua nuca um desejo.
Levemente escorro as mãos
vértebra por vértebra.
Ouso desmembrar a sua espera,
morro trôpego em sua carne.
Nos encontramos recostados na sinuca,
você com os olhos fechados, a boca seca
e eu com a boca no centro de sua loucura.
Sem alarme eu lhe desnudo,
tudo se apaga,
tudo se incendeia,
fogo que ilumina nossa clareira.
Não consigo distinguir suas palavras.
Talvez, diz procurar-me inteiro, minha essência
e eu procuro em você a minha existência.
Eu que imperial lhe chupo os seios,
percorro-lhe com mãos, dedos, olhos
e sinto-me indefeso
enquanto me rasga a alma com as unhas.
Ninguém sabe de nós?
Que nos condene não há um olhar?

À nossa volta  há um mundo anônimo
                                                         e paralítico.
Tanta fumaça que sufoca.
Não lhe perco!
Agarro em seu corpo
como se seu corpo nascesse em mim:
nos deitamos num anti-repouso frenético,
ditamos o ritmo cardíaco do mundo,
gememos sobre as nossa fronteiras.
Você me aceita e eu penetro em seu corpo
num extremado grito de silêncio.
Somos, então, o atrito de um desejo
que vaga entre os nossos olhos
e nos condensamos numa tensão intolerável
louca colossal demência.
Você me aperta contra a sua distância,
no findar de uma louca reentrância,
como se você não suportasse um segundo de ausência,
como se necessitasse unir nossos delírios
num último suspiro: fecundo!

...

e perco os sentidos sobre o seu sentido
e perco você para o destino
e o tempo me desperta:
Acordo banhado de seu suor! 





inverno de 2003

sábado, dezembro 07, 2013

minas em mim




não é que Minas tenha me gerado.
eu é que gerei Minas em mim,
de tal forma que acordo como uma montanha
e vou dormir como um pasto!

terça-feira, dezembro 03, 2013

desejo gelado



O tempo gira ao contrário,
entorta a alma, revira o corpo,
deixa escorrer os fluídos
de um ser envelhecendo em brasa.

Talvez se tivesse asas,
um Ícaro sem destino
por serras e por praias
a procura de noites frias,
quiçá molhadas ou úmidas ou...

iria desafiar a loucura
e na redenção do firmamento,
por um momento,
com desejos e sentimentos
imaginar alguma cura
não-cálida!

voo solo


Ah! Se eu soubesse voar
pra lhe dizer
pra lhe mostrar
algo além de nuvens.


Ah! Se eu saltasse deste andar
e sem saber
no que vai dar
eu fosse além,
além, além, além dum pouco de morte...
(Talvez tenha sorte?)


Ah! Se eu soubesse voar
pra lhe trazer,
pra lhe levar
ao fim do infinito.


Ah!Eu andaria sobre o mar,
quem vai saber
se eu não contar

desse meu caminho...


uma canção antiga, de 1997.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Soneto para seu aniversário
(Dialogando com Vinicius de Moraes)
                                                          a Flávia Aquino


"Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos."

Persiga os teus desejos humanos
e à alma plurifique divina,
que precipita toda  vida, prima,
aquele que não dispõe de planos.

"Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura."

Eu te digo: ah, prima minha, creia
e traga a todos a tua ternura,
que todo resto disso é besteira!