“Meu segredo é a vida!"
Ângela Pralini
Eu me dôo,
eu me valho.
“É assim: ?”
Sou pedra rara,
sou mistura confusa:
gosto de estar jade,
gosto de sonhar topázio.
Há um certo gosto no acaso!
Eu reúno a alvura da aurora
com o êxtase provisório do ocaso
e subo e frijo e rezo.
Rezar me crê ereta
E eu tremo.
Há em mim uma variação do tremer
que me deixa em cacos,
que me converte em pedaços.
“É assim: ?”
Eu me pauso,
eu me retrato
em grafismo abstrato,
eu me exponho em camaïeu:
um jardim molhado,
um estado de coisa que abomina.
Eu mulher-coisa,
eu mãe-coisa,
musa coisada!
Eu que não caibo na casa, no carro,
no
relógio, na joia,
no gradil de ferro,
no medo de viver
e juro em tom acerbo
adoçar o meu segredo.
Eu saúdo o humorismo da borboleta,
eu me procuro na lata de lixo,
no grão da ampulheta,
na caixa de prata,
envolta em
matón-de-malea,
no
chiado da vitrola.
Eu procuro o meu abraço adstringente,
o meu toque emoliente,
o meu beijo estrugido.
Eu me vejo
e me arrepio.
Eu me elejo,
eu me elevo,
retiro os escombros
e me reconstruo.
Sou-existindo a vórtice que perturba,
Sou a ultra-luz,
o ultra-som,
o silêncio da natureza
em cores de lavrar:
verde-esmeralda, branco-gritante, azul-rei,
preto-severo, roxo-distante, amarelo-doido;
sou o vermelho-escarlate que mancha
a última carta,
a carta que nunca servirá
ao amado,
a carta que esconde as lágrimas
e que subverte a vontade de ser
indescritível.
Eu me calo,
eu me afasto
do fardo que e o meu corpo
e por vez,
por um instante eu fraquejo,
eu me aflijo,
mas assim: !
não desprendo meu segredo.
Eu me doo,
eu me valho.
Eu que me amo e não falo!
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