Não nos lembraremos da noite
em que o encontro fora breve:
há outro motivo na liberdade,
esquecer o que talvez esteja distante
de repousar silencioso
e vaga no espaço.
Não nos lembraremos do cansaço
que havia depois da trilha, na chegada:
há uma cidade aos pés doloridos,
sistemas ópticos coloridos
de iludir as sombras
do último trago de vinho.
Não nos lembraremos da velha redoma
que vestia roupas rotas e delgadas:
eis que o tempo descolore as fotografias
que sacamos de nós em cada curva
da estrada.
Não nos lembraremos do álbum desfeito,
do copo vazio, do canto calado, da madrugada
nos botecos: prolongando o encontro, a palavra.
Esqueceremos cada dia e em cada dia
esqueceremos-nos, esse dia esquecido como tantos
e seremos os possíveis amigos de outro tempo.
O tempo... esqueceremos o tempo, não lembraremos
se é que fomos ou estamos ou seremos...
palavra escorrendo, palavra lava
que queima, que brasa, que lavra
o corpo que é nada!
Entretanto a lua é cheia, a noite é fria, a taça está plena
e brindamos, brindamos, brindamos levemente
ao momento que somos:
inesperado!