sábado, junho 27, 2009

movimentos

É simples mover palavras,
dar-lhes diferentes funções.

Difícil é se mover com elas!

É preciso saber os olhos
que compreenderão seus movimentos!

quarta-feira, junho 24, 2009

Lá de cima

Cá está a entrada
entre troncos mortos fincados na terra
a sustentar arames de farpas.
Não inaugures com teu passo
novos passos sobre o velho caminho,
a velha trilha de terra, de pedra, de areia
que subitamente te leva àquela serra.
Não penses um só passo
diante do adiante tão afoito
de novas curvas, de novos ramos debruçados
sobre um decline e outro,
de novas estratégias de caminhar
sempre em frente de presente.
Não lance tuas pegadas
pelas propriedades desconhecidas,
não pules esta cerca, este limiar de privações.
Não ouses avançar sobre a serra:
esse adorável relevo de proporções diversas
e suas veias secretas murmurando entre as rochas.
Não teimas tanto esforço sobre suas fendas,
não deites tanto suor nessa geografia,
nem tentes te elevar em movimentos bruscos.
Lá nada existe, é alto, é vago
e como diz o ditado tem outra serra em suas costas.
Se desejas isso, que venha e mire
esses desníveis e tudo que lá está longe.
Daqui os ventos se desfazem para tomarem todo vale,
os olhos seguem suas distâncias,
a boca grita ecos, o ar é mais frio
e os ventos voltam com mais força.
Lá está a porteira de teu atrevimento,
lá está o teu rastro, aquele teu caminho
e cá estás com teu cansaço, com tua sede,
com tua respiração trôpega, com teu espanto
e enfim podemos rir do alto, na serra.

domingo, junho 21, 2009

para você

Somente nós dois
e tudo em volta
quase sem muito sentido.
Flores que voam,
dias que brilham,
noites que beijam de olhos atados
pelo amor,
como fazemos diante
do tempo,
sempre a ignorá-lo.

sábado, junho 13, 2009

um ponto ou outro (os detalhes de um desencontro trágico)

Você não é o mesmo:
depois daquela noite
tudo aconteceu tão rápido!

Você não deveria estar aqui
tentando me convencer
que as coisas dependem...

- Dependem de nada!Dependem de p. nenhuma!
Ou se faz ou não se faz,
um ponto ou outro e só!

Não deveria estar aqui...
Mas se você veio, entenda,
eu só não sei o que dizer.

Talvez não esperasse que você fosse ficar,
limpando marcas, retirando evidências,
reconstruindo cenas confusas.

Eu também não sou o mesmo:
depois daquela noite, eu sabia,
nada teria a mesma dimensão, nada!

quinta-feira, junho 11, 2009

sonho de uma tarde de outono

Os namorados sentados no alto da serra,
muito pertos um do outro,
abraçados pela noite desbrasada,
lançam um só olhar sobre a cidade.


Ouvem sua primeira música,
sentem seus primeiros sonhos,
teimam aquecer o vento frio
que os ultrapassa assoviando.


Pouco sabem sobre o depois,
nada além os separa do agora.
As mão unidas, os dedos entrelaçados
pretendem tecer sua memória.


Apenas amam
tudo que podem
porque
em tudo estão.


Os namorados são namorados apenas porque assim são chamados: na-mo-ra-dos!
Se para eles apenas as estrelas fazem sentido ao infinito,
apenas as estrelas, apenas sua distância, apenas seu universo
e os beijos molhados suspirados sob a lua cheia.


Por isso, sobre um relevo de corpos
duas almas se envolvem de estrelas
e vão ao léu pelo universo
repousados no manto do amor!

segunda-feira, junho 08, 2009

Abraços

a João





Acordar e abraçar
o pequeno ser ao lado,
cria de alguém criado
para o amor sem limite.

Acordar e o apertar
nos braços, ressentí-lo
nos braços e sentir seu coração
bater no peito - perfeito!

Abraçar seu nome
e seu olhos claros, azulantes.
Abraçar seu jeito e gesto
de um momento e instante.

Abraçar seu riso,
seu sorriso de dentes,
seu corpo frágil,
seu amor de manhãs...

Adormecer e seguir
o mesmo rito
e até fazer dele em si
mito.

E adormecer e sonhar
seu ser
nunca distante
sempre em abraços!