sexta-feira, setembro 25, 2009

escrituras

escrevo tão mal e ainda teimas em ler
cada linha reta na tortura de pensar
que se não me fosse permitido escrever
eu para o mal alheio viria de pintar.

Só porque talvez eu necessito me expor
sem que alguma vírgula ouse dividir
qualquer ódio que desabe sobre o amor
e mesmo o amor que chegou a não partir.

escrevo pela estrita escrita de remir
o que em mim nunca hei de encontrar
e é como um desejo de chegar a partir
ou como certeza de não falar sem calar.

sexta-feira, setembro 18, 2009

...

Disse o imperador
que a história é uma versão
na qual decidimos acreditar
.
Talvez eu devesse não acreditar
no grande imperioso:
ele faz parte da história!

terça-feira, setembro 15, 2009

álbum esquecido

A pouca luz, a pouca sombra,
o sopro poente fremi...
Essa presença, esse perfil,
esse movimento silencioso do tempo
torna perplexos-ecóicos
os sentidos do corpo.


Mesmo que as palavras
adormeçam suspiradas,
detenham-se em sonho
com soslaios rudimentos,
mesmo que a sinergia dos amantes
fecunde solos áridos
e lance anelos e rupturas
e negações concubinatas,
encolherás todas as fibras
à recrudescência das nuvens
para sorver suavemente
as líquidas quimeras do teu relicário.


Alada suspeitas Ismália e voas
ambivalente... sobre o éter,
sobre os medrantes estorvos
do que infinda nas mãos, nos olhos
e resta acre sobre os lábios
como sombra, como luz
como marcas e resquícios...
como o infinito...

quinta-feira, setembro 10, 2009

Ao teu lado

Ao teu lado eu sou mais rente
à luz e à sombra, ando no meio das horas
sou tanto são quanto demente.
Ao teu lado eu sou febril e fremente
de um amor assim sem limite
que assiste a alma das cores
e a minh'alma deixa ardente.

Ao teu lado sou o sol e a lua
sou a natureza avançando os continentes.
Ao teu lado o universo é pequeno
e eu posso pular os mares e os oceanos,
ao teu lado os meus sonhos têm relevos
e são profundos os meus planos.
Ao teu lado inexiste os enganos
eu fecho os olhos com um jeito mais seguro,
e sinto a propriedade do orgulho
de te ter ao meu lado e sempre.

Ao teu lado eu sou adolescente, sou criança,
sou um ser nascituro e imaginado,
ao teu lado eu sou o teu lado, teu número,
ao teu lado sou a essência da vitória.
Sou a força e a coragem, ao teu lado,
sou a folha, sou o tronco, sou a raiz.
Ao teu lado sou um deus sem pecado
e divino, sou o homem mais feliz!

sob um poema doutro poeta (confidência poética a Professora Maria Regina)

Querida Maria, tenho sentido a despedida
de um velho império como o Império Asteca
e, às vezes, me sinto uma veste encardida
ou como um fantasma dito de um morto poeta:


"súbita mão de algum fantasma oculto
entre as dobras da noite e do meu sono
sacode-me e eu acordo, e no abandono
da noite não enxergo gesto ou vulto."


Perambulo horas de leitura, silêncio besta
entre as primeiras horas de um dia triste
e penso que hei não de ter o que mereça,
não ter escolhido um erro que ainda insiste.


E fico sem saber, caduca palavra sem trema,
se teimo que esteja negro meu coração
ou se tudo é culpa do Pessoa, do poema
escrito pela sombra virtuosa da ilusão.

quarta-feira, setembro 02, 2009

distâncias de ontem

Amei os passos que subiam as trilhas da serra
e contudo me esqueci de como eram,
nas noites escuras os caminhos conhecidos
eram desconhecidos e a poeira invisível desaparecia
no cansaço da chegada.
Amei os luais e as canções e o vinho adocicado e a cerveja amarga,
a estrada de pedra que conduzia a capela,
a Santa Helena, padroeira desses destinos.
Amei o olhar de uma cidade iluminada,
as águas que corriam à queda pelas pedras,
as árvores tão altas quanto os prédios
e um lago que um caminho contornava.
Amei as orações sobre a árvore e nas torres fechei os olhos,
o vento forte que levava as mágoas, amei.
Porém todas essas lembranças me levaram para longe!