domingo, dezembro 30, 2012

ao poeta


a Frederico Garcia Lorca



Encontro-te entre folhas noturnas
resvalando nas paredes nuas,
não sabes ainda de tua carne,
onde te esconderam, homem.

Encontro-te desencontrado de formigas,
perdido entre vermes, entre molusco,
entre frutas ciganas adormecidas,
entre búzios, mares, terras secas.

Miro teu amor imprevisto, desesperado,
indo ao mar, às águas de Sevilha,
trazer lembranças para deixar ao teu pedido.

Toco teu olhar vazio de medos, admiro-te,
poeta que jaz banido. Imagino Granada:
não fui a Granada, não conheço teus refúgios,
mas sinto-me escorrer em tuas imagens
como o sumo científico de certos cítricos. 

sexta-feira, dezembro 28, 2012

CAPS LOCK

MY BODY IS YOU
AND SOUL TOO.

para festejar...

trago flores
e trago cores
e macero dores:
dedilhando alegrias!

Abelhas em zombaria,
asas desenhando nuvens,
diversos insetos,
seivas, troncos, folhas,
bolhas de como faz,
musgos e fungos e lesmas
e aquelas formigas
de asas que voam,
e aquelas minhocas
dando à terra sonhos
e húmus:
trazei-me para perto do sol.



haicai de outono

o frio de vento frio,
a estação
que gela a seco.

texto empoeirado

Gosto da noite, das noites de lua, das noites sem lua. Leio pelo menos um trecho de poema por dia. Adoro Drummond, Gregório, Hilda, Lorca, Cora e Augusto dos Anjos. Tenho fases, estações e virações. Gosto de boteco e gosto de conversar com Buteco. Adoro cores neutras, mas gosto de vermelho. Quero ganhar o mundo, mas tenho medo do poder. Tenho uma parte determinada, disciplinada, planejada e outra parte que é a maior anarquista. Sou muito crítico comigo. Estou entre os meios, nem alegre nem triste. Dizem que minha personalidade é forte. Às vezes o novo me assusta, até sentar com ele e o ter entre os dedos. Equilibro-me na insegurança. Tenho um cachorro, o Luck Strike Jr., diferente. Tenho alguém que me ama. Quase sempre sou insuportável. Ouço Lenine para dançar, Chico para chorar, Zeca Baleiro para dar risada, Moska para sonhar, Vininha para sentir, Science para pensar, Adriana Maciel para dormir. Estou tocando minhas canções com certa alma. Adorei conhecer Ceumar, Céu, Badi e Alda Rezende. Luiz tem a Melodia. Caymmi, preguiça. Adoro que uma certa mocinha cante para mim, tem uma linda voz. Cinco coisas essenciais: A, E, I, O, U e as consoantes. Falo muito, inclusive o que às vezes não devia. Pago sempre por isso. Sou melancólico 10 horas por dia. São 14 horas diárias de 220 v. Adoro viajar de carona. Não gosto de beber Skol, nem Coca-Cola! Pensei em fazer história. Ainda não falo inglês, ainda nem espanhol. Quero aprender esperanto. Devo ter vários traumas. Cartola tinha razão, as rosas não falam. Acredito que minha beleza está na diferença. Sou diferente. Nunca quebrei nenhum osso. Tenho amigos, acho. Tenho pessoas as quais daria a minha vida. Julia é uma paixão, Lucas outra. Queria jogar xadrez com a morte. Estou apaixonado pela solidão, ao menos enquanto...! Meus amores serão eternos e lindos! Sou medroso, tímido e sonhador. Quando eu crescer quero ir para casa e adormecer junto com o sol. Talvez para nunca mais acordar...




esse texto é antigo e já foi muito modificado. Eis o original!

seguimentos distantes


Cá sentimos cores de romper
o dia e amanhecemos sem saber
ao certo
se amanhecemos prontos
para o amor da tarde.
Dos nossos fragmentos da manhã
inventamos nossos mandamentos da noite
e o verão não nos permite estrelas eternas
como era certo em nossos invernos.
Com o passar do tempo percebemos gris
toda e qualquer imaginação, antes furta-cor
e nos fartamos de admirar velhas paisagens
tão nascituras e futuras relíquias.
E seguimos vencendo moinhos!

Ah! E tu lá onde não sabemos,
vivendo extremidades que imaginamos,
por seres vida rompida, força veemente!
Distante e nunca ausente desprendes
de teus olhos essa fina camada
de verdade que sempre nos foi precisa
e que com cuidado usas
a envolver tudo o que miras,
tudo que ao teu redor figura único.
Sentimos tua força em nossas fragilidades
e tua fragilidade em nossas incertezas,
e ficamos tomados de uma infância suave,
felizes por tua existência em nós
e sorrimos...


E em teus instantes (aquariana)
segues tateando nuvens! 

quarta-feira, dezembro 26, 2012

soneto puro





Fique o amor onde está; seu movimento
nas equações marítimas se inspire
para que, feito o mar, não se retire
de verdes áreas de seu vão lamento.
.
Seja o amor como a vaga ao vago intento
de ser colhida em mãos; nela se mire
e, fiel ao seu fulcro, não admire
as enganosas rotações do vento.
.
Como o centro de tudo, não se afaste
da razão de si mesmo, e se contente
em luzir para o lume que o ensolara.
.
Seja o amor como o tempo – não se gaste
e, se gasto, renasça, noite clara
que acolhe a treva, e é clara novamente.


Lêdo Ivo


adoro esse soneto! 
Um dos primeiros livros de poesia que li foi uma antologia de seus versos. Depois li um romance, ninho de cobras, mas me lembro de ter copiado esse soneto sentado no chão da biblioteca da ETSL. 
Eu agradeço por cada verso que dele pude lê, agradeço por mesmo ter existido em minha vida, agradeço pela influência, agradeço por sua poesia: poeta Lêdo! 

terça-feira, dezembro 25, 2012

soneto para Folha

Sem explicações, para que não seja prevista,
vem, assim, dolorosamente de repente,
nos rasgar o peito, tornar a vista
embaçada de um ardor latente
a vida, com sua mágica de sempre,
adormecer de um sonho desconhecido,
alguém que falta agora febrilmente,
que é colega, irmão ou um amigo.
Só deixa uma marca, uma cicatriz,
um estado estranho de uma bolha
e uma ausência que não passageira,
Deixa também uma certeza gris
que ele não era tanto um Folha
quiçá nos fosse a árvore inteira.

desde teu nascimento


a Marina Machado



Tua voz vem de longe
me dizer o quanto um sonho
pode ser tão pequenino
com as mãos fechadas a esmo.

Tuas frases, fases, nomes...
Teus recortes, teus acordes,
Teu sorriso para dias cinzas,
tuas nuvens para esse sol...

Tua chuva, tuas luvas, tua língua...
Teu francês, teu fascínio,
Tua estação preferida, teu ciclo,
tua primavera, tua primeira escolha...

Tua colcha, teus retalhos, tua canção...
tuas cartas, teus diários, tuas fotos,
teus vazios, teus medos, teus erros...
tua caligrafia quando é paixão.

Tua fé, teu ré, tuas velhas orações,
teu candombe, tua fome de dançar,
teu dia sim, teu dia não, teu coração
e tuas novas paixões, tudo, tudo...

Tudo gira em teu corpo, tudo deixa em teu solo
pegadas do teu jeito, tudo é meio teu meio
de mover sonhos e desejos rumo ao seio
ao cerne do teu nascimento!


quinta-feira, dezembro 20, 2012

o convite




Deixo o teu convite
na entrada de tua casa.
Quero que o encontres
quando chegares da farra.

Quero que rias do resquício,
quero que cheires a rosa morta,
quero que deixes o vestido
dependurado na porta.

Então, num gesto, tires a noite.
Quero que desnuda te estendas
e deslizes à sequidão de minha boca,
ao corpo que inflama e queima. 

catástrofe





Oriento o pensamento para o inesperado.

Há uma faixa de céu que está azulado.

O resto são nuvens e pássaros.

Homens bebem um pouco de espaço,
amam e não querem ser incomodados.

E o melhor desejo é um tanto improvável.

É imortal ou anti-social ou engordado.

Sentem que o pôr-do-sol não pode ser ignorado
porque a cada segundo o mundo acaba.

Ou será o cigarro?

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Feliz Aniversário










Feliz aniversário,
dizem os amigos mais íntimos,
parentes mais distantes,
pessoas mais queridas
e bebem e sorriem e brindam
todos os mundos num só mundo, num só dia...
Dizem felicidades, cospem felicidades desejada.
Nessa hora que entra um ser de nada,
um desses poetas vagabundos,
de certa forma desconhecido...
Entra batendo palmas e cantando
com sua banda solo
e olha sem olhos
todos os com alma e grita
no meio da festança:
"Agora deixemos que moça
faça suas palavras de dança!"

confrontos



    




Devo aos teus olhos
a canção que nunca acaba!
Por que em mim paira
alguns dos teus vestígios, silenciosamente!
E essa presença tem uma melodia
que é tão suave como o tato
de um desejo sobre o outro!
E essa presença tem uma força
que é tão leve como o espaço
de uma brisa sobre o corpo!

Devo aos teus olhos
a imagem que nunca evapora!
Por que em mim tarda
algumas palavras quase ausentes!
E essa beleza tem umas cores
que são tão puras como o gosto
de uma noite em madrugada!
E essa certeza tem uns traços
que são tão profundos como as linhas
das mãos deslizando sobre a alma!

segunda-feira, dezembro 10, 2012

o flagelo

O cascalho geme ao passo apressado
de um homem distante de si, perdido,
perdendo todos os seus sentidos.
Eu quero lhe dizer que lute,
que vença, que volte
a ser
um ser
que cuida dos seus passos.