sexta-feira, novembro 27, 2009

Antes da tempestade

O que o vento não pode:
...
um sopro de levantar paisagem,
...
um movimento de qualquer imagem,
...
uma viração de céu e nuvem,
...
uma ondulação sobre as águas,
.
uma pequena miragem!

quinta-feira, novembro 12, 2009

sem resposta possível

Eu não sei responder o anonimato
e o tempo quando quase o toco
tenho o sono.
Adormecer ao ato de mover sistemas,
descansar para prover a empresa da vida.
Quase não escrevo,
quase não sonho...
Vou de um lado ao outro
sem me dar conta que deixo
pegadas e rastros
na distância.
Eu tento me manter sereno,
olhar as estrelas de ontem,
mas nas últimas noites nuvens pairavam
e amigos distantes sorriam e choravam...
Sinto o cansaço dos olhares
e olho perdido:
alguém que me seja preciso
diga que meu silêncio ainda me faz vivo
e que busco viver como sempre busquei!

Eu continuo com os mesmos algarismo,
tento signos mesmos de antes
e tento não ter segredos.
Amo muito e meus olhos sabem
que amanhecer tateando o amor
ilumina minh'alma e meu corpo.
Quero envelhecer vendo um sorriso de olhos puxados
dando cores ao caminho.
Destino não tem distância,
verdade não tem trinca.
Sentimento não é latifúndio!
Quando há um breve momento
busco uma resposta
(ao presente, que seja, mais longe do contato)
que não seja ao vácuo
pois que não sei responder ao anonimato!

terça-feira, novembro 10, 2009

...

Era uma tarde de novembro
e havia a sombra de cem anos...
O braço pendeu ao lado do corpo
para longe do corpo, o silêncio repentino
de uma tarde de novembro,
as mãos vazias,
uma esferográfica rolando pelo assoalho,
nenhuma mitologia, nenhum estruturalismo,
e nenhuma diferença: uma fotografia com alguns homens de vários continentes, com feições distintas e com o mesmo olhar e sorriso humano de amizade.


Claude Lévi-Strauss


Era uma tarde e era novembro
desde o dia antigo
ao dia último
o mesmo amor pelo homem
e pela vida.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Agualusa livre

“Em criança tirei um pássaro de dentro de uma pequena gaiola.
O pássaro não voou.”
Não saberia o pássaro que era céu
olhar vôos e sê-los.
Ciculou-se ciclópico,
deu-se voltas e mais voltas
refletindo-se nos espelhos e nas grades.
Não sabia... sobreviver e voar e longe
circulou-se sem rumo, é certo...
Era criança livre depois prêsa,
crescida e prêsa,
guerreira e prêsa,
quase muda – livre.
Entendia: a gaiola era cidade...
sentia-se sufocado e via as pessoas em ruas,
em vias de tempo sujo e asqueroso.
Sentia o peso das correntes e das dobras das fardas...
e no mudo queixo quebrado,
desmundo do imundo passeio das tiranias
mirou os prédios mais negros,
deixou-se escorrente lágrima...
Aquela estação das chuvas àquela praça
expunha-me como o pássaro...
“Aquela cidade já não me pertencia ao meu organismo, era uma prótese.”