terça-feira, março 22, 2022

certames infantes quiméricos

 

Venta, 

a manhã se anuncia breve de nuvens!

Nada que aprendemos nas enciclopédias,

nos dicionários denotativamente obsoletos,

nem o aturdir de asas rufladas ao fim da tarde,

nada, nada se mantém em sempre!

Só uma coisa, uma ideia, faz-se ao sempre 

das manhãs que essas nuvens teimam: 

venta! 

Venta

e preso à linha, ao carretel, à mão 

que solta e prende e inflige e revolta,

o menino voa em papagaios - naves imagináveis, 

praticando assaltos aéreos de combate, 

retirando do celeste azulado, cor tal distante,

inimiga dos frontes infantis e das venezianas vizinhas,

abatendo entre rasantes, buscadas e rabiolas e:

venta!

Venta, 

só o grassar involuntário dos pássaros 

é permitido no céu de criança mercante, 

munida de fragmentos de vidro e óxidos 

e polivinis acetados, transformados em elos

cerolados de confrontos em glórias juvenis... 

em táticas de enlace e aparo de tensões, 

mesmo que diluído, examen do céu e ainda

...

venta!




quarta-feira, setembro 15, 2021

Preciso de um café! Ou Presentes de Cássio e outras alegorias....

 

Três imagens distintas, 

traçam novos rumos 

de meu pequeno universo.

Mãos ao barro, 

sementes para um vôo,

olhos em busca de cores!


Três fotografias destinadas ao poema!

Três meras imagens a outros...

Três receitas de voltar a ser criança!

Três meras imagens a esmo...


Uma pirâmide de minh'alma

feita às três pontas no deserto,

desenho dum caminho imaginário

que só em infância 

podem ser lido...

um sorriso trino e circense!


Como três reis mágicos e um menino!

Como três presentes de um (re)nascimento...

Como três e três e três nunca será quatro!

Como só em mim tal tríade...


segunda-feira, setembro 28, 2020

pequeno poema dônico

 a Paulinho Moska

Tudo que fizeste

foi além...

‘do muito para falar’!

 

Desde

a primeira vez que, despido o amor,

anunciaste ao som e ao silêncio teus sentidos...

dônicos,

mais profundos

de teus refúgios,

resvalaste aos fundos mais fundos,

desconhecidos,

o sublime e vero

tudo/nada de amar a cada passo, gesto, sopro, sussurro

revelando em cada verso

algum qualquer universo de acordes,

amalgamados,

entrelaçados,

emaranhados...

por tua alma!


terça-feira, abril 14, 2020

propaganda vazia

"Tudo vai voltar ao normal"
Isso incita a rebeldia, a minha rebeldia...
Você sabe...
tudo que faço é por rebeldia
menos quando é poesia.
Só ela que me salva
dos dias, das tardes, das noites...
Mesmo quando tudo é guerra 
e  eu mais do que covarde
invado vilas, cidades,
trago sintáticos transtornos
com mortes e saques e selvagerias,
a poesia surge da tempestade
para adornar os mortos
e limpar o sangue dos versos mortos
pelas vias!
Enfim, sempre do contra,
poético rebelde do contra,
poeta de merda,
de versos clandestinos e desconhecidos.
Por que me duvido? Por que me divido?
Tentando não negar alguns discursos
mais do que falidos,
buscando alguma voz, quiçá razoável
atestando "não" ao conflito do comum,
meramente vago, raso e aceitável.
Mas eu sei que é pura rebeldia...
mesmo assim...
eu a faço:
senhora de minhas sílabas mais perversas e sensatas!
Às vezes, tão somente casto,
rogo: as mais singelas e delicadas providências,
emanado energias positivas ao universo,
aos seres vivos e a todo esse papo furado.
Por sempre ou quase sempre,
o que me importa não te importa,
ou importa se - e se - eu consentir,
ao modo que ocorre com todos
e a poesia, não se difere.
Mas ela me ressalva,
alivia um pouco da revolta,
dá voltas longe do umbigo
e ressignifica o que fica
zunindo, baixinho, aos ouvidos....
"nada voltará ao normal!"

terça-feira, dezembro 17, 2019

diário fechado


quando o vermelho não se apressa em ser tempo
e se perde em sua cor sanguínea.

quando o azul não remete ao céu.
não eleva à glória a conquista do pensamento...

quando tudo é um número e tormento
e se traduz em simpĺes resultadismo

o conhecimento se silencia nos lábios
e nos olhos de quem o ignora


domingo, novembro 03, 2019

negações da liberdade

Nenhuma palavra me basta
e faz um bom tempo que não liberto
nenhum verso,
nenhuma camada que exposta
retire peso, pedaços, postas...

Ninguém que explique a ausência de respostas,
nada aqui, nada que detenha-se amorfa
e, desorientado nesse universo
não atribuo culto,
não recorro ao discurso adverso,
somente resto, somente me perco
na solidão dos aspectos duvidosos...

Nenhuma palavra me rasga
e corta como antes e antes e antes...
nenhuma  peleja,
nenhuma coisa, mecha, joça...

Ninguém que me alveje propostas,
tudo ali, tudo na mesma toada
e, desmedidas inovações do tempo,
o que fazer do sentimento
que não vai com o vento
que passa e passa e passa...

... que nunca passa na hora
que precisamos ruflar nossas asas!

sábado, abril 20, 2019

preterismos de antes



ontem se foi, quem sabe...
o meu olhar ainda em nuvens 
persevera com o vento, 
ansioso por tocar com luzes 
a distância de nossas palavras. 
tudo o que se imaginava 
nunca foi decerto verdade, 
e uma simples ausência de tudo 
cunhou-se mais do que tempo, 
uma sentença de incompreensão. 
ontem se fez, quem saberá... 
e o coração ainda pulsa em cores 
venenos e antídotos!

sábado, janeiro 26, 2019

Elegia de dezembro

                                                                                                           ao mestre e amigo Antonio Carlos


- Fala comigo! Não falas, esses tristes dias se esvaem
onde se orquestra despertar um novo ano.
É madrugada e "que novas tristes são, que novo dano,
que mal inopinado incerto soa " . 
O sono,  o sono eterno dos que sonham, 
não aquieta o choro dos que despertos oram!

- Fala comigo! Não falas amigo, mas eu sinto, 
como se a inesperada das gentes também me esperasse
ao longo da madrugada, pelo taciturno alvorecer 
e todas as canções fossem despedidas... 
A manhã, a própria manhã, tão gris,  
não compele as lágrimas do céu, dos anjos! 


- Fala comigo, ó mabaral da educação
E tua palavra é o silêncio físico da saudade 
já refletida em aqueles que nem aqueles, 
ou mais que esses, quiçá a todos que te encontraram... 
Os dias, mesmo os dias refletirão os teus olhares 
azuis, como era antes quando falavas comigo!


sexta-feira, janeiro 04, 2019

24 de setembro de 2007


"O que importa a palavra se a gente sente
bem lá no fundo d'alma uma coisa diferente,
um frio que queima sem a menor explicação,
uma certeza inexata que só sente o coração
e não é preciso palavra, sente-se à distância,
se tem gosto, aperto, olhar e fragrância"
B. Monvinne



Ouvi seu grito! Belíssimo poema!
Poema abissal, profundo!
um poema de um poeta de corpo
e de sentidos, um poema
de um poeta preciso em sentidos,
de uma beleza molhada sobre o sol da manhã,
um poema de ler e ler e ler e balbuciar a tentativa de volver
à memória na menor necessidade,
uma resposta.
uma resposta poética.
uma resposta poética precisa.
um pouco cansado do barulho
das superfícies das palavras,
mergulho em sua resposta
e respiro meus sonhos de gritos.
Ouvi seu silêncio! Poema Belíssimo!

beijo de partida




O mínimo sopro de seu sopro,
o instante de seus lábios,
vão adormecer umedecidos
pela saliva que provocaste
em secura de minha boca!






janeiro de 2002

sábado, dezembro 22, 2018

o homem, um anúncio qualquer




a
mídia média medra
meio-
fios
meios
gestos
de gênero de número de classe
do que
invaria
invalida
in  e mais
valia
quanto quando e no entanto
o que resta,
nãos e noves
tão fora
que zeros há que
e nem os há.
Tudo está aonde vou
em 5 a 30 segundos
em horários
e erários
nobres e pobres
apodrecentes
rebeldes do 
controle remoto.
a
média mídia medra
aquilo que
desde morto
e amórfico
nem precisa nascer!
segue feito Narcísio
e seus reflexos
e não-reflexões...
segue, ademais, paixões
e intervalos
que se repetem
e repetem
e repetem,
até que nunca
se tenha ouvido,
sequer mencionado,
um nome,
o nome
(um risco no céu)
de um homem
quiçá
da humanidade!



segunda-feira, agosto 27, 2018

propaganda eleitoral

 
Peito à mostra
pleito à vista
social e capitalista


Nada vai bem
nada tão mal
comunista comercial.


domingo, agosto 26, 2018

desenhos no muro



sol da manhã
em manhã de sol,

outra canção em si,
isso em mim um mi

o vento de pássaros
amanhecendo os voos do dia

nem tudo é poesia,
nem todo grão alcança o vento

mas o balé das árvores
estendidas ao além dos aléns

em seus giros e gestos
tecem imagens abstratas

sobre a frieza do concreto
ainda adormecido e rijo,

retratos em sombras tortas
iluminando pequenas lisuras

texturas outras, chapiscadas,
tremulices de nuvens emparedadas

desenhos no muro, fotografias
amanhecendo o que é poesia.



segunda-feira, março 26, 2018

XL





Ah! Há algumas coisas que nunca vão mudar...
uma delas é essa dor interna sem explicação que eu sinto
e que arde sem que eu possa curá-la.

Essa ferida que desde sempre impregna todos os meus olhares,
que segue dando cheiro e contorno ao meu corpo
que me faz brigar para ser agradável com as pessoas
para que elas sejam agradáveis com os outros:
há muita coisa pessoal...

Essa dor, que nem é dor e nem é marca
e que mesmo sem arder, queima e não cicatriza
Essa dor vazia de dor e cheia de dor
que na lua cheia quer domar o corpo e levá-lo ao impossível.

Ah! Dolorido e vadio rasgo que não branda nem acalma,
ao contrário,
cresce e reverbera credo,
que é como um segredo de gelo que não derrete
e vai gelando a alma...
que é como um segredo de neve que derrete
e vai molhando a alma...
que é como um segredo
e mergulha...

quinta-feira, fevereiro 01, 2018

Poe(ta?)ma!






O poema não diz, sangra o poeta!
Se queres me ouvir, leia-me!
Verso torto, não se sabe
e acontece de repente,
sim, porque o poema é poente,
última borboleta do dia:
P-O-E-S-I-A!
À noite será outro esquema.
Poeta dos falsos poemas,
dobre as tuas feridas,
recolhas a misericórdia
e como se a manhã não se houvesse,
descuide de tudo e parta.
Pode ser que chova, mas não te sufoques.

O poema? O poema não diz,
corta...
taciturnamente o artesão se afasta:
aquilo não era palavra,
era foice...
e a chuva não era lágrima,
era ácido...
Não te enlouqueças por tão pouco.
O fato é sempre central (?),
marginal é a conseqüência (!).
O poema sobre o poema:
um poema, uma pedra no caminho, um sei não, um talvez...
Mas não há quem se prive do sermão,
o poema não se deve a razão,
ele é o esperma,
medíocre perfeição...
o Poe(ta?)ma!