quarta-feira, janeiro 18, 2017

DUO IMPERFEITO




Meu amor sonhávamos desnudos
quando inda éramos crianças.
Tu com tuas tranças,
eu com meu orgulho.

Brincávamos no escuro da estrada
e te amava a perder de vista...
Eu era o burocrata,
tu eras a artista.

Meu amor corríamos às léguas
debaixo da chuva rala.
Eu que molhava as pernas
tu encardias as anáguas.

Morremos no reflexo do açude,
quereríamos a vida à morte.
Tu com teu jeito forte,
eu com meu jeito rude.

Mas eis que o tempo esbarra
na curva do destino.
Eu já não sou teu menino,
Tu já não és minha arma.

Agora que estou-ser-idoso
rev(ejo/ivo) na crônica passada
teu gosto enquanto flor baca...

Eu, que queria ser tudo:

ponto final de uma farsa!

domingo, janeiro 08, 2017

estudo instrumental




                                             estúdio improvisado

Os instrumentos são iluminações dos homens!
Vivem nas mãos, nos corpos,
nos corações!
Tardam fins que choram 
e riem - em dias de chuva, em dias de sol. 
Os instrumentos...


Os instrumentos são matérias do infinito imaginário,
colorem as paixões de infantis delírios,
gozam de olhos fechados,
dormem. Os instrumentos dormem!


Os instrumentos dormem explorados
e sonham-se novos
precisos em novas façanhas.
Lutam de igual a igual.


Um dia compreenderão os continentes,
deterão som, movimento, intenção,
serão
tão seres quanto o ser que os criou,
quiçá se perceberão
superiores.
                                                            Os instrumentos...
                                   Os instrumentos tentarão...
          Os instrumentos chegarão ao céu?
                                              

                                                                       ... pelo mar?


mirar-te



Olhos para olhar
as diferentes luzes dos teus olhos,
mirantes adormecendo em teu mirar
inquietante...

(Dizes, com retinas:
Ser feliz, minha maneira!)

Reflito-me em tuas janelas
e a alma segue feminina
seus mecanismos de ver além:
cores não há, só teu olhar.


E ressente mirar-te!