sábado, janeiro 31, 2015

AH!





Ah! Que eu nunca entenda como flui a vida,
Que eu sempre a permita que me arrebate um golpe,
Um sopro e envolva leve, leve, levemente.


Súbito delírio:
o sopro de um inverno frio
levando as nuas folhas sob a lua.



E a vida se escreve
Com o dedo, na areia...




Ah! Que eu nunca julgue como flutua a vida
Como o sangue corre abrupto e inunda as veias,
Um pulso e pulsar tão breve, breve, brevemente.


Coração no ápice:
o silêncio de cada manhã
iluminando as pedras molhadas de novas imagens!




domingo, janeiro 25, 2015

manhã depois da chuva

Quando chove no cerrado,
tudo seco de sol queimante,
fica verde até os olhos e
o cheiro de mato molhado,
desce dos céus mais etéreos
e pousam sobre o terra
como um jardim de sândalos
que, é certo, damas da noite!

sexta-feira, janeiro 09, 2015

política poética







Pois que meu verso
tem que ser maior
que os teus versos?
que o teu erário?

Serias e o teu universo
que colorem o meu imaginário?

Qual movimento surdo
darias aos meus olhos
de brincador de amor errante?
de insignificante operário?

Estarias e o teu inverso
manifestando delicados relicários?


quarta-feira, janeiro 07, 2015

sem volta?






Vai-me um docinho?
Não obrigado!
Quase morri essa noite.
Verdade, quase!
Eram-me estresses ou vaidades?
Penso os dois!
Bebi e traguei o que não me devia?
Devias ter tento!
A quantos ando agora?
Pensando em morte!
Sinto-me dores em meus sonhos?
Devias ter senso!
Agora, sou só pesadelo ou medo?
Cisma, cisma!
E a poesia é-me prosa?
Já fora embora!
Confirmas a minha desalma?
Não, não perdeste a fé!
E o honro-me e o respeito-me?
Saiu pela culatra!
Ácidos queimam a alma?
Desintegram sua textura!
Posso voltar-me no tempo?
Creio que é tarde!
Devo me concentrar no breve?

O novo é tudo!

terça-feira, janeiro 06, 2015

numerologias







21 maneiras de contar 52, 54, 55...
Números de poéticas urbanas:
um plano, um jeito,
77 conceitos do engano.


Alguém articula 81 argumentos
descabíveis.
Romário veste a 11
no selecionado canarinho.


35 modelos de conduta
                   de doutrina
                   de adestramento.


Nenhuma teoria denota 99
por cento 
de estranhamento:
ou 98
ou 100!

É para que deixe de lado as cores
as pinturas, as figurações,
as numerologias
das trancas,
as portas,
as janelas,
as frações
quaisquer desses ângulos
pitagóricos. 

posso, não posso...





Posso te contar o arco-íris,
cores de que luz do céu.
Posso rascunhar meu nome
num pedaço de papel.
Posso te mostrar à noite
todas as constelações.
Posso desenhar um plano
para outras dimensões.

Posso te levar ao carrossel
que gira amores de jardim.
Posso te tocar uma canção
para que cantes para mim.
Posso te sorrir sem jeito
se me olhares a sorrir.
Posso te gostar inteiro
sem medo de me partir.

O que eu não posso
é  te levar em mim
se não for numa abstração.

A paixão tem dessas...
quando, eu não sei,

tempo, eu pensei que não!

que coisa





Que coisa os corpos celebram?
Vem desnudo do coração?
Ou ressoa na superfície,
intacta vertigem
na película da razão?


Que coisa se incorpora
e pede aceitação?
Quando, deveras, já é parte,
da pele covarde
e medrosa da solidão?


Que coisa é coisa então?
Que coisa é coisa então?
que coisa, então?
que coisa...


O que é coisa e calor?
Que figura aciona a paixão?
Vem das estruturas anacolutas,
das disputas e conjunturas
escondidas no porão?


Que coisa é coisa então?
Que coisa é coisa então?
que coisa, então?
que coisa...

longe, amor







Se você vai longe amor

eu fico de butuca na sua distância,

na sua distância...

Eu amo você até a dor

de não lhe ter nos braços

rara pedra preciosa!



Quase nunca estou em mim,
quase sempre em você.
Adormeço quase clarim,
Sempre tardim ouço você.


Se você está longe amor

eu faço ronda sobre-humana

sobre o seu retrato.

Eu ouço a sua canção

e da sua solução  

você é o espetáculo.


segunda-feira, janeiro 05, 2015

Óóóóóóóóóóóóó....

a Miguel, José e Ângelo



Olha que vai o tempo sem demora,
passando pelo meio-dia
como se fosse meia hora à tarde afora
de um dia quente que a ducha estorna.
Dia de visita atrevida, sem aviso,
como meio termo do improviso,
só por achar um poema meio esquecido
e querer recitar para amigos.

Vê que ficar se fez necessário,
sem prévio agendamento de calendário,
sem provisão de qualquer erário
e pela satisfação cardionário.
E quando se fala de quem aparece
de repentemente surpreendente
e faz lembrar que acho que a gente
havia, decerto, conversado pela mente

Observe que na fita que eleva os pés
tentam equilibrar-se angelos e josés,
e em terra, confabulando alguns revés,
seguem fumando eus e miguéis.
E a música nos eleva impassível,
já faz hora de partir ao indivisível
momento de levar o hortelã, previsível,
'se não posso possuo o impossível!'



quinta-feira, janeiro 01, 2015

vermelho-mentira


só no discurso,
nada em curso,
só uma distração de palavras,
para a crença
em lendas
em mitologia
em comerciais de margarina
em folhetins
de uso sanitário.
ano novo, novos ovários,
novos otários,
novas velhices
estampando
paredes rachadas,
um novo reality
uma nova maneira
de não ser novo,
nem no discurso
e sem curso.