quarta-feira, dezembro 31, 2014

então por quê?




Não era pra ser assim
imediato.
Não era pra ser o fim
do espetáculo.


Ainda restava um ato!
Restava o grito sufocado!


Não eram linhas tortas as retas
das rotas?
Não eram tortas as linhas rotas
das retas?


E uma página em branco,
e o silêncio de tantas palavras,
não lhe diz nada?


Não era em mim outro
sistema.
Não era pra ser assim

esse poema?

O universo do amor




Se eu fecho os olhos ainda sinto teu tremor
em minha pele, sinto teu frio,teu calor
e amo em cada segundo o teu fremir
como se o infinito fosse me invadir.


Se eu fecho os lábios é por que a tua presença
trouxe teu beijo febril entre tantas ausências.
Eu quase deixo escapar que tenho medo
de não ser mais parte do teu segredo.


Se eu fecho corpo protegendo o coração
talvez não devesse te fazer essa canção
que não diz nada do que eu quero dizer,
que o amor foi bem maior do que se vê!


E hoje eu toco tuas curvas, tuas retas
e nossos planos e relevos, nossas metas
são tão maiores que a vida
e a vida pede mais:
que o amor sempre nos deixe universais!

Oração pelo amor




Meu Deus,
permita-me o amor! 
Permita-me não dormir, lembrar cada mínimo instante em mim durante noites e noites e noites!
Permita-me não prestar a nenhuma palavra diferente da palavra amor! 
Não me deixe cair na tentação de tocar o desejo sem amor! 
Não me deixe negá-lo em mim, mesmo diante da "indesejada das gentes" não me deixe negá-lo!
Meu Deus,
eu sei que a paixão tem sentidos parecidos, mas o amor... 
ah, o amor é mesmo a própria vida se revelando! 
Seja sempre, em mim, revelado o amor! 
Que eu nunca me permita fechar os olhos sem a suas bênçãos, 
que nunca permita que escape seu hálito de manhã, de céu e de sonho! 
Quando eu já não enxergar qualquer luz, nem olvidar qualquer mistério, 
que ele seja o meu segredo maior!
Meus Deus,
que não és o pai das religiões, 
que não estás encerrado em um andor, 
saibas que também eu sou: amor! 
Permita-me amar além da dor, 
amar além do amor 
e ser além!





B. Monvinne

domingo, dezembro 14, 2014

saberemos




Se o amor é grande...
Se a amizade não necessita de presença...
Se ganhar não é tão importante...
Se tudo faz sentido...
Se realmente foi sincero...
Se é a pura verdade...
Se é só mais uma mentira...
Se essas desculpas pesarão...
Se ficou bem entendido...
Se você aceita o sacrifício...
Se o mundo é grande...
e se o amor também!

quinta-feira, dezembro 04, 2014

adocicado

dia de amanhecer como nuvem detrás da serra
e ir surgindo devagarinho pela manhã.
se perfumar com o aroma do seu café
adocicado
e seguir pelo dia como que cantando
uma cantiga de infância, de ninar seus olhos
com porções infinitas de carinho
adocicado!

sexta-feira, novembro 14, 2014

poema rupestre




em memória


na beira da palavra manoel
pus de enterrar olhar de perto,
decerto, sem prover de teu olhar de pássaro
ou de pedra e barro, por sinal das miudezas que paralisam
as funções reais do amor,
quiça a parecência com a coisa
e só depois, muito depois a grafia de um vento.



por isso , mais te entendiam as formigas, as borboletas,
lagartos, caranguejos, frutas apodrecendo, o musgo orvalhado,
vaga-lumes, as crianças...



e agora, tendo o teu olhar um olhar de nuvem, olhar de anjo,
com certa saudade de véspera,
leio teus ventos, o que refresca a alma, como água de bica,
água de açude refresca o corpo no sertão de um menino,
leio teus versos ao querer de respingar entendimento
de como se grila uma manhã, de como se consegue a palavra mais áspera,
de como se brinca de brincar de coisa e seus remendos,
sim-sendo ou não-sendo de vez coisa inominada.



por isso, deixa em mim, como sempre deixou,
um estado de infância da língua, um enxergar de antigamente,
um amor secreto por desacontecimentos de inverno e por teus versos...



sábado, novembro 08, 2014

canticomantraoração para dias de cansaço!



Porque você pode!
  porque você consegue!
    porque você suporta

     o peso da derrota,
      a angústia da maldade,
      a dor da solidão,
     nada será seu repouso.

    porque você tem um objetivo,
  por que você tem uma busca,
porque você pode!

Porque você pode!
  por que você tem uma busca,
    porque você tem um objetivo,
   
      nada será seu repouso,
       a dor da solidão,
       a angústia da maldade,
      o peso da derrota,

     porque você suporta,
   porque você consegue!
Porque você pode!



sábado, novembro 01, 2014

desejos políticos e apolíticos

Do caos de uma rede
nasce cicatrizes tão reais
e tanto mais fomenta o ódio
destilando ofensas nos murais!

A vida aos poucos toma prumo,
vai se aquietando os jornais,
mas muita coisa foi quebrada
coisas que não colam mais!

Antes que a vingança retome
e finde suas ações em tribunais
(os partidos repartem os homens)
não, com mágoas, se entorpeça jamais!

domingo, setembro 28, 2014

ninazinha







Ah, menina! Queu te pego e te conto o mundo!
Vês? Não era isso,
aqui, ali, lá, depois
do labirinto de tua cabeça, ninha?


Ah, menina! Queu te falo o fogo, a brasa!
O teu coração, não caberia
em tuas mãozinhas
de deslizar em nuvenzinhas!


Ah, menina! Queu te mostro um jeito de dar-te asinhas!
Danças a textura
do quinto dos mistérios
de amores alados na alma, ninha?


Ah, menina! Queu te sei, queu te sonho a vida!
Então me beijas inexata
num tremor e desvario
de segundos tão frágeis, ninazinha!    
Ah, menina!


sábado, setembro 13, 2014

adeus!



em memória de  Tião da Renda




Ao fim do tempo regulamentar de um jogo
do fim do tempo mesmo da vida,
um olhar matemático profetiza,
uma voz cansada, de um suspiro rouco,
denuncia quantos seres loucos
de paixão, paixão futebolística
estiveram naquela partida
com quanta alma, com quanto corpo.

Pedia a devida licença de algum número solto
e averbava o que dele depreendia
a renda expressa daquele dia,
como deduzira a renda de tantos outros.
E agora somente o lembrar qualquer mouco,
e ao tardar de cada narração uma estranheza
que daqui a frente o futebol perdeu e tão pouco
estas tardes de jogos serão as mesmas!

domingo, agosto 31, 2014

teus números são...



a Maria Luísa


                                                                     



oito versos sejam
executados,

sete vezes sejam
inscritos,

três vozes sejam
arpejadas,

oito versos
derretidos,


nunca, jamais, nenhum
forjado,

quatro ainda
manuscritos,

seis para serem
prensados.

sete nascendo de

um grito!




XXXIX

XXXIX



Eu tenho um amor criança, um amor de julianial beleza! Desses que a gente não sabe o tamanho e sai gritando pela a casa.
Tenho um amor de alma,
de cuidado,
de amigo,
um amor com idade pra ser filho, filha de outra amizade, de outro amor, de outros amores... criança como eu sou, como somos: rebeldes crianças sonhando!
Tenho um amor que só de se saber bem já é supremo e surpreendente,
que me leva me traz me cansa me mata
e quer brincar novamente.
Eu tenho um amor criança: um amor, uma estrela, uma casquina constante.
Se pirata me empurra na prancha para depois me levar a sua ilha distante.
Eu tenho um amor criança
fugindo pela escotilha da grande nave espacial
eu tenho um amor pequeno e meio grande e que é imenso e que é gigante e que não tem vírgulas e que está gravado nas mãos. Tenho um amor sem dimensão,
sem desejo,
sem órbita
um amor feito um voo de um pássaro,
pode ser colorida e bela sua plumagem ou frondosa sua imagem
mas o voo não sabe desses blefes aos olhos
e voa, sobrevoa, voa
por natural que seja...
Amor criança este que alcança as pontas dos pés
e gargalha ruidosa, faz cosquinha, quer brincar novamente
de fantasma e pega-pega e esconde ali,
procura daqui, de cambalhota, de girar o mundo
e o carpete da sala, pular para bater na lua,
amor!
Eu tenho um amor de anjos, amor de fadas, amor de duendes, amor de fábulas, amor de água e de peixe e de sereia e de Netuno!
Amor, eu tenho ou ele me tem amante?  Quer girar, rodopiar, tornar redemoinho...
Amor que há de salvar os dias,
que há de salvar as noites,

saberá, os homens e seus filhos!

XXXII











Outro dia eu vi teus olhos
invadir o meu olhar
e fiquei te imaginando
a dançar na chuva.
Como se fosse dia de fechar os olhos
imagino o teu sorriso,
paira em minhas mãos palavras
de contar-te esses sambas,
de retirar-te os tambores
e deixar outras batidas
invadindo o meu olhar:
outro dia eu vi teus olhos!


XXXV







Amaranta estava certa
um Aureliano só não tropeça!
Todas as ruas solitárias são mãos única,
as vias nasais têm duplo sentido...
Não se sinta só respirando
sem ônus de solidão
em cem anos de desação:
siga a meta da metáfora,
siga a metafísica da placa, da capa, da marca...
oriente o ocidente para fora desses acidentes:
la soledad
la soledad
ao soletrar soleil
reflita como um palhaço no ar
que há, que haverá de pousar
somente em risos
riscos, rastros, rabiscos,
aplausos,
gestos levemente confundidos...
A solidão come Amaranta,
dorme na estrada das reminicências...
Homens: tão nossos humanos,
seres que experimentam o destino!
Longa estrada, essa, que começa

e termina sem caminho!


XXXVIII




a Saulo Demichelli





Entramos pela porta da frente!
Chegamos como quem nada desejava.
Aprendemos a apreender a pouca vida
e a arquivar trens devidos.
Aprendemos a esquecer vestígios
que nada doeram – principalmente.
Fizemos de cada dia um erro diferente,
(quem liga mesmo para os acertos?)
crescemos...


Hoje começam a nos pedir licença:
besteira, não conseguirão de nosotros
esse retiro estúpido dos covardes.
Uns saltam das janelas,
outros tentam as escotilhas.
Nós atravessaremos todas as salas pisando verdades
e sairemos pela porta dos fundos,
mas somente depois de acreditar
termos rabiscado todas as paredes dessa casa,
com giz de cera e em letras encantadas,
como todo Gentileza...


Saímos do ciclo?

Não! Vamos ao Reciclo
(sambar) ou a Pasárgada!



sexta-feira, agosto 29, 2014

CXXIV


Com cuidado, com carinho
procuro a palavra mais sincera,
a palavra tão leve que aqueça
seus seios, seu ventre, você!

Com dedos, com tatos
pretendo encontrá-la sonhando
um dia de entrega e beleza 
entre os olhos e seus olhares!

Com calma, com ciência
construo aos seus destinos
pequenas escolhas, procelas

com ondas e ventos de eternidade!

quinta-feira, agosto 28, 2014

Ah, os dias claros tão caros à existência!

desabafo sintético ( tentando entender o debate dos ecos)

Tem coisa muito errada
agora mesmo na esquina
de qualquer bairro de qualquer cidade.
é o novo sem valor de conceito,
o que iniciou, mas parou no meio,
o velho caso contado doutro jeito
e etc., etc., etc....

Tem trens demais para pouco espaço.
Alguns seres que não tem nada
em qualquer cidade de qualquer país.
É a geração da escola sem escola,
a promessa do futuro da bola/droga,
a mesma ladainha, o mesmo chove-não-molha
e etc., etc., etc. e tal!.

terça-feira, maio 20, 2014

sol espanhol


a Camila Cota




é dia de sol na Espanha
e um dia de nuvens aqui,
há cores invadindo la ventana 
e um vento distante a seguir


os templos e os corações
e os tons da tarde no lençol,
daqui o dia prossegue,
daí persegue o sol Espanhol.


Quem sabe mariscos do mar,
quem sabe a festa das ondas
de águas e de sal e de corais


Quem sabe roupas nos varais
e uma vontade estranha e insone
de por um instante girar e girar e...


terça-feira, fevereiro 18, 2014

novamente

outra estação
vou novamente
feito um ausente
sobre a canção

andando em vão
ou na tangente
como uma enchente
de verão

pelo sim, pelo não
melhor, de repente
resolver a questão
novamente!

sábado, janeiro 04, 2014

a lembrar



a Lygia Guimarães


Aonde vais tem um passado
que de tão frágil, nascituro.
Entre tuas mãos as linhas
de tuas mãos tecem voltas.
Emaranhados, os sonhos
confundem essas distâncias.

Há um passado em teu destino
que guia cada teu passo,
faz compassos contra o vento,
deita teus cabelos na face.
Junto aos teus lábios
tantas palavras antigas.

Lá, bem lá que chegares
miúdas lembranças tamanhas,
dessas de ontem, anteontem,
dessas de festas e façanhas,
para embalar as tuas canções
de viradas futuras, de manhãs

com sabor de boas novas.
Aonde quer que chegues
passa um filme monocromo
que deseja teus movimentos
tão mais coloridos possíveis,
tão mais naturais que possam.

Há um passado que quer teu vôo
para as terras mais remotas,
para as mais desafiadores rotas
que o alcance pode o toque.
Há um passado, não se importe:
faz-se presente e se fará contigo...