domingo, dezembro 28, 2008

para Ana Vianna





Ana vai partir
aonde não há sul
é norte em abril
e no verão também tem sol.
Ana vai ao inverno branco
de mãos frias e sonhos quentes,
Ana vai crescer distante
vai ser mulher ausente,
vai ser menina ausente,
vai ser lembrança que a gente
aperta de lembrar,
sorrindo,
pois Ana,
Ana vai imaginar no horizonte
futuros encontros
de antigamente!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

não se apoquente

Nada é o bastante para quem quer ser o maior,
para quem nasceu com o dedo no gatilho do desejo,
para quem foi o peito, a boca, para quem foi o beijo,
e foi a língua na ponta da resposta do pior.

Nunca tomba à onda a tona, nem repica o anzol,
para quem cresceu de corpo com a veia à mostra,
para quem chiou ceia e foi na força à desforra,
tentando cegamente um ataque contra o sol.

Não se apoquente,
Qualquer coisa a gente mente!
Não se apoquente.
Joga a semente no chão!


Jamais a presa se prende e se entrega ao destino
sem que a deixe resistir, sem a defesa na vida,
sem a peleja que a natureza desfaz escondida
nas virações e frações dos ardentes líquidos tintos.

retrospecto - 2 0 0 e no fim o infinito!

(abril a julho)



A arte, é culpa da arte! Ou da desarte humana! Eu sei, fiz uma mística de valores, apaguei certos relevos, desfiz da bagaceira, movi o pó que em meu corpo salpicara. Por pouco tempo, mas o suficiente para refazer o olhar sobre a seaara. Foi um tempo de opressão interna e impressão externa. Foi um tempo em que a dor não era mais dor e passou a ser saudade, passou a ser bem querência, passou a ser entendimento, passou a ser humano e errado e belo. Foi um tempo em que perdido e sujo e faminto, tive abrigo, tive água, tive carne, tive um sonho de voltar. Era tempo de mudança!

quarta-feira, dezembro 17, 2008

em memória






De um disco antigo
retiro um dia antigo
na voz do tempo.



A luz do sol
deixa um feixe
colorido na parede.



De olhos negros
eu tenho o céu distante
ao meu cuidado.



Não será noite
enquanto a poeira não
apagar suas marcas.



Sua violência de concreto
rachado e vazões subterrâneas
ameaça silenciosamente.



A voz do tempo soa
como uma tempestade
que trouxe a bonança.



Tudo que era meu de nome
não deixou forma alguma,
nem palavra.



Sem amarras pus longe
um sentimento imenso
que é como um disco antigo.



Um disco antigo de lembranças
tão antigas como as noites,
como os dias!

terça-feira, dezembro 16, 2008

retrospecto - 2 0 0 e no fim o infinito!

(de janeiro a março)





- "O ano não começou!" Quer dizer... não quero dizer que o ano não havia começado. Eu sei que ele havia começado, as pessoas se vestiam de branco e festejavam. É certo que nessa festa de paz, amor e comunhão universal alguns seres foram brutalmente assassinados, mas outros tantos seres festejavam. Chegara o anúncio do novo ano novo, bissexto, 2 0 0 e no fim o infinto e tudo era triste, tudo era espera e palavras e solidão e vazio. Fez sentido, faço de conta que fez sentido. Envelheci o bastante para não me importar mais com o tempo. O que importava não importava. Sobre o meu signo ainda, os olhos, eram ardentes os sopros queimavam distâncias. Compreendi. Era um dia de partida... o ano havia começado e não começava nada bem...

- Não estive por aqui esses dias de pouco. O palco ficou vazio e deitei em seu vão e chorei o abandono daqueles, que num dia de chuva, ficaram ausentes. Sozinho. Sozinho como sempre. Um novo passo, dois braços em movimento, mãos e dedos, peito aberto, olhos atentos: caminho, que eu o faça(gritei do vento mais alto)!

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Primaveril

Não quero que sejas a flor
que nessa manhã
desponta dos teus olhos
às tuas mãos
de terra e de orvalho.


Quero que sejas a própria manhã,
retocando todas as cores,
resplandecendo as florações!

segunda-feira, dezembro 08, 2008

fim de temporada

.




Despeço-me do peso de um bissexto,
deixo ao lado do palco um vão de vento,
dois olhares presos, sim e não deixo encostado no encontro do horizonte com o inesperado.
Abandono lá de mim essa história
melhor silenciada e límpida,
que reste apenas cada toque febril,
cada movimento tenso, cada sombra trêmula e viva.
Adeus aos teus quartos dos fundos e à tuas passagens insanas, ao teu relevo expositivo e à tua sala aberta de lugares estendidos.
Adeus ao teu teto e às tuas luzes e ao teu ressoar de sopro nú.
Adeus Casa,
que já não sou digno de confessar-me em ti.
Piso em teu palco pela vez tardia.
Adeus!