quarta-feira, novembro 16, 2016

o universo do amor


Se eu fecho os olhos ainda sinto teu tremor
em minha pele, sinto teu frio,teu calor
e amo em cada segundo o teu fremir
como se o infinito fosse me invadir.


Se eu fecho os lábios é por que a tua presença
trouxe teu beijo febril entre tantas ausências.
Eu quase deixo escapar que tenho medo
de não ser mais parte do teu segredo.


Se eu fecho corpo protegendo o coração
talvez não devesse te fazer essa canção
que não diz nada do que eu quero dizer,
que o amor foi bem maior do que se vê!


E hoje eu toco tuas curvas, tuas retas
e nossos planos e relevos, nossas metas
são tão maiores que a vida
e a vida pede mais:
que o amor sempre nos deixe universais!

domingo, novembro 13, 2016

o convite











Deixo o teu convite
na entrada de tua casa.
Quero que o encontres
quando chegares da farra.



Quero que rias do resquício,
quero que cheires a rosa morta,
quero que deixes o vestido
dependurado na porta.



Então, num gesto, tires a roupa.
Quero que desnuda te estendas
e deslizes à sequidão de minha boca,

ao corpo que inflama e queima. 



sexta-feira, novembro 11, 2016

amigo-amor



Foi perdida na confusa procissão de desejos,
que você provoca em mim
que eu sonhei os dias perfeitos.
Eu que senti nas mãos, no toque, no cheiro,
no seu repouso em meu colo,
no seu desabafo,
o seu olhar excitado
pela palavra que nunca foi dita,
pelo longo momento tão breve,
pela distância inexata que tínhamos de nossas fronteiras:
falamos línguas distintas,
vestimos costumes diversos;
somos amigos confessos
da promessa de um dia não sermos
ou sermos além-coisas de um mesmo verbo!

Mas, se não chegamos a sê-lo (?),
sabemos (inconfessável)
que éramos distantes estrelas
em dispersa gravidade
e que (inconfessável) por nada ou quase tudo
entreolhamos-nos em mútua aquisição
e na mesma órbita quase colidimos.
O que foi?
Eu tive medo,
medo de tocar-lhe com força maior
que minha força,
medo de não ouvir meu nome em seus lábios,
medo de ouvi-lo sem gesto de zelo.

Atormenta-me a aparência que o seu amor secreto
tem com a minha face dolorida,
eu que olvidei os descompassos do seu coração
e que não me debrucei em sua sombra.
Então, foi o medo?
Não sofrer o sofrer do seu gosto,
não perder-me e encontrar-me em seu corpo?
Não tardar desvendar seu segredo?

Foi perdida na confusão que meu corpo celebra
que eu ocultei a minha verdade proibida,
(o mau uso da palavra certa)
que lancei os olhos sobre o nada,
que iludi as mãos que eram-me aflitas.
Talvez, um dia,
como um raio que irrompe e rompe
a mais negra nuvem da mais negra tempestade,
eu lhe confesse o mais triste segredo,
quando já não for um segredo.
Nada fica oculto sobre a pele,
aos olhos que não se fecham
á alma que sela a dor de amparar o amor
e não prová-lo:
as afinidades eletivas!

Você é exato o homem que me atiça
e torna mais simples a minha vida
e que move demônios esquecidos.
É você, meu amigo-mais-que-amigo
(que dia!)
Inconfessável criança,
eu seria o tempo e o amor,
eu seria o seu melhor brinquedo,
eu seria o seu maior pecado,
o seu erro e a sua anomalia.
Mas se eu pudesse (ter um desejo de vida...)
viveria os últimos dias ao seu lado...


Compreende nossa confusa poesia?

sexta-feira, outubro 21, 2016

mas nem sequer ouviste o que eu não disse


Não, não feche os olhos, não feche as mãos!
Fique dispersa na ventania,
deixa que teu cabelo se perca no céu
perca teu senso!
Não, não cruze os braços...
sinta a chuva que encharca a noite...
Não, não parta, não leva, não deixa,
a tua ausência,a tua moldura,tua tela em branco.
Esse teu jeito de girar,girar,girar...
esse teu sorriso movendo a felicidade
destes estancados homens perdidos.
Esse olhar que se põem atrás das nuvens,
que espera os segundos de suspense
para se revelar transparente,
translímpido, amante.
Esse teu falar de sussurros roucos
que gelam a conduta corporal,
ecoa nas ruas,atravessa as praças
e chega ate mim,
apenas um ouvinte!
Há o dito seguinte
que se a palavra não veio é por que os olhos
retiveram sua beleza,
mas fora tão desejado dizer,
quanto então ouvir e olvidar.
Não era o lugar o alto
no salto de se revelar,não, não feche as mãos;
no instante de se confundir,não, não feche os olhos;
no tempo ao vento
sabias que eras a luz mais bela,
o fogo que mais ardia,
e eu tentava te dizer
num canto do sistema solar
que era preciso voar
para se distrair
mas já não podias me ouvir.

segunda-feira, outubro 10, 2016

sempre








Ao caminhar pela noite
o homem solitário pensa
que de todas as possibilidades
ele é a mais remota.
A sua rua é torta,
o seu passo é confuso
e quando alguém se apressa
em ter com ele
algumas palavras de protesto,
ele sussurra a sua canção
misteriosa,
ele sorri em seu silêncio,
ele se encolhe em seu vazio.
Não é solitário, está por aí.
Certamente não olha
as janelas das casas,
não se atira sobre as salas,
às varandas, pelas portas.
Seu gesto é contido,
embriagado de censura
vaga entre ilusões passageiras.
Precisa ser livre, mas está preso
aos costumes,
às estrelas e às suas lendas.
Precisa do grito,
da força,
de asas.
Se cruzam o seu caminho:
(e sempre cruzam)
há de notar todo olhar
com certo jeito vadio:
ainda é criança, criança é ainda ademais.
Conversa com o poste da esquina,
fala de amor em palavras perdidas,
engole artigos suspeitos
e rasga o peito, o chão:
seu riso é lágrima!
A noite é triste para esse ser
esquecido nas ruas, nas praças de outrora!
e quase sempre ele ri!
e quase sempre ele chora!
quase sempre ele sempre
caminha sonhando e sorrindo...

domingo, outubro 09, 2016

Como esCulpir um Colar






Dessa noite de outono retire

uma fotografia.

Pegue linha de nylon 0.5

e faça a escolha da ponta.

Corte um pedaço da escolha

diagonalmente

e queime e prense com delicadeza.

Enlace a imagem com o fio:

quatro lances de contorno,

bem cerzidos.

Pegue pedras – preciosas ou imprecisas – coloridas,

de todos os tamanhos, de todas as texturas.

Escolha o pequeno pedaço de pedra que pretende

teus olhos e teus olhares

e o extraia de sua origem.

Com cuidado, dê-lhe significado,

explique-o embora não o saiba.

Dê-lhe notas dissonantes

diminutos acordes, experimente...

Prepare naquim  e verde-oliva

para retocar as presilhas,

use ganchos perolados.

Prenda tudo com precisas nuanças

e fazendo mudanças de luar,

retire o ar e deixa

que o coração se acalme.

Sinta-o completar a alma,

lave-o com o corpo,

tome-o com a distância.

Então, de súbito, prenda

com toda delicada

presença

teu colar: amor,

no contorno da amada! 

segunda-feira, agosto 15, 2016


tudo que é dito
magoa
ecoa
pelo abismo
de sentidos
a palavra ambígua
desfocada
sufocada
rasgada
no improviso

e tudo
é nada

um dístico!

ausência


por que a distância toca seus dedos finos e secos
e em noites que há tanto silêncio quanto escuro,
não deixa a sombra da lua romper o muro
e não condena o vazio desses ecos?

por que, então, soletra do tempo qualquer murmúrio
se não percebe que o tempo é só um reflexo?

domingo, agosto 07, 2016

!uma singela e taciturna homenagem!



póstuma canção efêmera de adeus
 ao poeta e músico Vander Lee










vais tocar para Deus
vais tocar adeus ao Diabo
mas vais tocar longe daqui
esse poeta tão apaixonado

e deixas pelo caminho, rastros
algum acorde desmedido
desse coração de tônico, átono
por tanto amor vivido

silêncio hoje não faz sentido
somos pequenas efemeridades
é que humanamente me sinto
descendo a ladeira da saudade...