sexta-feira, dezembro 13, 2013

responde-me




O que te faz olhar tão longe?
Os ciclopentanoperidrofenatrenos?
O cheiro de incenso?


O que te faz caminhar tão triste?
Os sapatos apertados?
Um pouco do ocaso?


O que te faz viver tão rápido?
O relógio antecipado?
O amor agendado?


O que te faz mudar de lado?
O que te faz sorrir arames?
Auri sacra fames?


Quando estarás livre, olhar-me de perto?
Feliz, caminhar calmamente?
Quanto terás algo permanente?




II



Perguntas exigem respostas,
responde-me!



Faz-se silêncio, senhora,
escondo-me!



Se te calas,
eu bem sei o que aconteceu.



Na verdade
a pergunta já me respondeu!

terça-feira, dezembro 10, 2013

o sonho (mensagem de nuvens)




Noturno entre foscas luzes,
tremor desfigurante de uma lenda.
Você me percebe perdido na sombra
                                                      da melodia
e eu percebo em seus lábios a flor proibida.
Tudo se faz confuso:
não há paisagem fixa,
o tempo nos aproxima,
a razão jorra em nós um líquido inflamável
e queimamos o coração ao nos ocultarmos.
Ouço vozes submersas,
esbarro em seres soturnos
no vazio que sabem da noite.

Nunca houve tempo para o nunca!

Encosto em você meu sempre,
você sussurra ferozmente em mim
belas palavras proibidas
e em seus braços uma estrela amanhece neutra
virgem e pura: uma escultura,
                                            você!
Ah! Neste meu olhar não há limites sobre seu olhar.
Devagar eu lhe beijo a flor encarnada,
como um derradeiro soluço de vida,
como se o corpo já fosse algo mais que um corpo.
Demoro meus lábios em seus lábios,
resgato em sua nuca um desejo.
Levemente escorro as mãos
vértebra por vértebra.
Ouso desmembrar a sua espera,
morro trôpego em sua carne.
Nos encontramos recostados na sinuca,
você com os olhos fechados, a boca seca
e eu com a boca no centro de sua loucura.
Sem alarme eu lhe desnudo,
tudo se apaga,
tudo se incendeia,
fogo que ilumina nossa clareira.
Não consigo distinguir suas palavras.
Talvez, diz procurar-me inteiro, minha essência
e eu procuro em você a minha existência.
Eu que imperial lhe chupo os seios,
percorro-lhe com mãos, dedos, olhos
e sinto-me indefeso
enquanto me rasga a alma com as unhas.
Ninguém sabe de nós?
Que nos condene não há um olhar?

À nossa volta  há um mundo anônimo
                                                         e paralítico.
Tanta fumaça que sufoca.
Não lhe perco!
Agarro em seu corpo
como se seu corpo nascesse em mim:
nos deitamos num anti-repouso frenético,
ditamos o ritmo cardíaco do mundo,
gememos sobre as nossa fronteiras.
Você me aceita e eu penetro em seu corpo
num extremado grito de silêncio.
Somos, então, o atrito de um desejo
que vaga entre os nossos olhos
e nos condensamos numa tensão intolerável
louca colossal demência.
Você me aperta contra a sua distância,
no findar de uma louca reentrância,
como se você não suportasse um segundo de ausência,
como se necessitasse unir nossos delírios
num último suspiro: fecundo!

...

e perco os sentidos sobre o seu sentido
e perco você para o destino
e o tempo me desperta:
Acordo banhado de seu suor! 





inverno de 2003

sábado, dezembro 07, 2013

minas em mim




não é que Minas tenha me gerado.
eu é que gerei Minas em mim,
de tal forma que acordo como uma montanha
e vou dormir como um pasto!

terça-feira, dezembro 03, 2013

desejo gelado



O tempo gira ao contrário,
entorta a alma, revira o corpo,
deixa escorrer os fluídos
de um ser envelhecendo em brasa.

Talvez se tivesse asas,
um Ícaro sem destino
por serras e por praias
a procura de noites frias,
quiçá molhadas ou úmidas ou...

iria desafiar a loucura
e na redenção do firmamento,
por um momento,
com desejos e sentimentos
imaginar alguma cura
não-cálida!

voo solo


Ah! Se eu soubesse voar
pra lhe dizer
pra lhe mostrar
algo além de nuvens.


Ah! Se eu saltasse deste andar
e sem saber
no que vai dar
eu fosse além,
além, além, além dum pouco de morte...
(Talvez tenha sorte?)


Ah! Se eu soubesse voar
pra lhe trazer,
pra lhe levar
ao fim do infinito.


Ah!Eu andaria sobre o mar,
quem vai saber
se eu não contar

desse meu caminho...


uma canção antiga, de 1997.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Soneto para seu aniversário
(Dialogando com Vinicius de Moraes)
                                                          a Flávia Aquino


"Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos."

Persiga os teus desejos humanos
e à alma plurifique divina,
que precipita toda  vida, prima,
aquele que não dispõe de planos.

"Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura."

Eu te digo: ah, prima minha, creia
e traga a todos a tua ternura,
que todo resto disso é besteira!

sábado, novembro 23, 2013

o homem ao lado

                                                                 a Paulo Guimarães




O homem tem passos soltos
e se aproxima.
O homem ri,
conta essa coisa toda da vida,
se ajoelha,
investiga.


O homem tem cabelos
e olha movimentos.

Tem no tempo humano da noite
universos distantes.


O homem tem manifestos, sopros
e cantos antigos.
O homem se interroga homem

e ri-se!

sexta-feira, novembro 22, 2013

pigmentos

     





                                                           a José Augusto Rocha


O sol da noite num piquenique, 
seu olhar demora feito nuvem clara, 
traz nos dedos borboletas, 
poeira nos calcanhares, tetas 
para alimentar sonhos, um leve
firmamento para inaugurar teus traços, 
curvas, curvilíneas, curvaturas, 
em cores de reduzir falsidades: 
claras, vivas, ternas... 
sua criatura celebrada em gotas!

quinta-feira, novembro 21, 2013

mortalidade



Não sou dono de terras, 
ruas, praças, estradas, 
nada detém o meu nome. 
Nasci para dar cheiro de palavra:
não dar o gosto, dar o cheiro!
Cheiro de barro, de pedra molhada,
cheiro de café com rapadura.
Meu nome não-preso a nenhuma lousa, 
sem denominar venda, casa, cemitério. 
Não sou doutor de nada eterno,
só a poeira do dia resta em meu suor... 
só os meus passos restam de meu ardor... 
só os olhos puxados do meu amor,
só o amor!

terça-feira, novembro 12, 2013

anjinho









Meu anjinho companheiro,
amigo de longa data:
perdoe o mal jeito
e as trapalhadas.
Eu ando sendo um sujeito
que predicado de burradas
vai perdendo o conceito 
e as palavras.

Meu anjinho querido
que a hora me alivia:
cuida dos meus amigos,
cuida da minha família.
Eu ando respirando rarefeito,
nem ar, nem água me sacia,
vou-me defectivo e imperfeito
resvalando na poesia.

Meu anjinho, meu igual,
minha luz diante das trevas:
presa por meu ideal
rege as minhas cancelas.
Eu ando me saindo mal,
entrando mal em desvios,
seguindo meio sem meios, sem sal,
venho topando desvarios!

r. aquino

no canto O Canto





Eu não sei se resisto e me calo,
se me lanço no espanto
e agonizo em tua face
ou sob protestos renuncio à alma
e te como a carne.


Eu não sei se te ouço
e me acabo,
se no centro do vácuo
eu te estranho,
ou se te pergunto:
a quem importa?


Tu, primeira pessoa singular,
assim meio torta,
respondes:

- Importa, eu que te amo!






                                                                                                primavera de 1999

desdobramentos óticos




Olhos a olhar


Ver sombras, crer que sombras são verdades.
Olhos, tão mais sensíveis que a mais sensível lente,
tão únicos, uma janela
um janela da alma.
Ver sombras, fotografar, escrever com a luz sombras.
Desnudar com a luz a sensualidade
da distância, do profundo, do foco.


                                Olhar             Objeto


Segundo o poeta Manuel de Barros,
o olhar vê, a memória revê, a imaginação transvê.
Eis os olhos da mente: imaginação.
“A poesia é a transfiguração!”

Como transfigurar em linha reta?
E o foco do pensamento,
num momento em que o mundo
é tanto foco, tão visual?
Pensar e ver da janela do mundo,
jamais apenas enxergar.
Muito pouco enxergamos,
quase tudo imaginações. Completando imagens partidas,

o lusco-fusco da sobriedade nervosa.  
Assim desenhamos o mundo em nossas casas, 
estendemos as lentes para secar 
e tentamos devolver as cores antigas à retina, com imaginações! 

sábado, novembro 09, 2013

cento e pouco, alguma coisa





Cento e pouco, alguma coisa:
estação perdida!
Única sonora radio difusora!
São ondas, são médias, são curtas?
O ponteiro quebrado não te acusa.

Cento e pouco vírgula dúvida:
estação tardia!
Envia-nos via íons o amanhã.
Difundida delícia da pronúncia,
a palavra deslizando na partícula.

Estação confusa!
Estrada cheia de curvas!
Um chiar fremente de relâmpagos,
uma canção para desfazer miúdas
perturbações de uma sintonia espúria.

Estação retórica!
O locutor perdeu a sua hora.
Estação clandestina!
Cento e pouco, alguma sina:
...
e esta canção feminina  que me fascina
...

Summertime!

as luas dos felinos







Leve e lindo
cada movimento tem sua admirável graça,
e entre os móveis vai se confundindo,
entre as roupas, entre os trapos,
entre os vários artefatos e os papéis de pesquisa.
Leve e adormecido
brinca com sua décima terceira lua,
sonha um sonho felino de noites negras
e aventuras de sumir de tudo,
de cochilar longe da imaginação dos homens.
Leve e leviano
banha-se em beijos e carícias,estica-se,
a sua armadura dócil e deixa os pêlos pela casa,
e deixa as marcas sobrepostas as outras marcas,
feito precipitações expostas de presença.
Leve e preciso
corre com sua nova lua, de algodão trançado:
lá se vai outro satélite, outra lenda,
ao fantástico mundo das bolas:

'praonde' elas vão

e nunca mais voltam!


segunda-feira, novembro 04, 2013

nós em resumo

                                                                                                  a Saulo Demichelli
Voltando
do centro das coisas caminhando
para jogar com a vida até o último centavo.
Saindo de cena danando-se para as regras
de quem educa números sem cores.
Ultrapassando movimentos de voar e de pousar
esferas no chão com mãos e forças.
Fazendo vibrar retas que ruidam sonhos
como quem desenha órbitas infinitas.
Rindo das águas que explodem nos mirantes
vazios de denúncia, apelo, alegorias.
Chorando por aniquilamentos surdos
e por instantes em que não somos além-outro.
Cantando a deusa do amor, embalados por registros
que não seguem corrompidos em papéis desertos.
Sendo como a noite dentro da noite, única
em líquidos e brasas e fragrâncias desfiantes.
Brigando por imagens mais puras de nossas imagens
e acreditando, sem razões acreditando um no outro.

sábado, outubro 26, 2013

não-ficção




Pontos luminosos
na rua escura
são meninos nas sombras
respirando vazios
amassando latas
iluminando caminhos
de Alice e seu mundo
de cores e de maravilhas

mentirosas.

quinta-feira, outubro 17, 2013

mãos que se calem!

As mãos se movem com a manhã,
faz que mergulha no rio o corpo ainda adormecido
de um outono quente e seco. Escorre gotas,
em vão as nuvens tentam permanecer na noite.
Eu conto as nossas estrelas imaginadas,
faço em conta como os ladrilhos coloridos,
eu conto os insetos no teto do nosso quarto,
como num parto nasço do silêncio do sonho perdido.
Tenho impróprio a delicadeza do desjuízo
olhando ausente o que desperta atrás da porta,
nesta memória um conto pensa que é segredo,
e calado escondo a mão da palmatória.
Teimo que minha situação seja vexatória,
sem ganhos e sem rasgos, com poucos centavos,
as mãos prolongam-se sobre o teclado
e tecem sentimentos fragmentados, pequenos delitos,
homenagens desesperadas e alguns espaços.
Chove! É tarde! Ocaso!
E a noite é um hiato!


os traquejos que cantamos

o amor não é bem um traquejo! não pôde ser ofício.
daí a ideia de fazer traquejos acerca do amor.
dizem as más línguas que o poeta é um artesão disso tudo,
com traquejos precisos! Pura tolice!
Só os amantes são capazes de cantar o amor
com qual traquejo!
e disto fica dito: os poetas foram unicamente acusados
por amarem em demasia! Por traquejarem o amor
em poesia!

à palavra

Ora, ora, se não és tu que me torna d'outrora,
de um dia mais azul ou menos azul?
Se não eis aqui e agora ao deleite inquieto
da saudade ou do remorso da presença?
Se, então, não sois um tremor algum em meus passos,
uma direção oscilante e um destino insólito?
Se não sois a própria extensão de meus olhos,
meu lance secreto com o olhar e o seu instante?

Embora tua presença não me falhe à memória,
és em tua ausência a ausência desse canto.
Meu silêncio pronuncia teus tantos nomes,
minha boca se apraz do som de tua retórica,
minhas mãos despertam à tua leveza insone,
meu corpo treme em tua natureza afora.
Tenho tantas estações desfeitas em ti,
e a mim te entregas entorpecidamente nova!

E agora, depois de tantas e tantas desnudas auroras,
vens me tirar o ar, vens me verter confuso,
vens desfazer tudo que decerto depositei
créditos e esperanças, ainda que tardias.
Decides em mim e por mim que hoje agora,
depois de dois ou sete goles de uma curtida,
depois de alguns tragos, algumas bolas, apareces assim
nascitura dos encantos de uma lisura poética!

o nome dos traquejos

qualquer nuvem sem vento é um traquejo!
uma simples folha sobre a água e
a imaginação de um barco n'água e 
à água uma ilusão.

aquela pedra estúpida é um traquejo!
a areia fina na sola de seu sapato e 
a poeira que pousa sobre a mobília e 
os fragmentos de uma cerâmica qualquer.

e assim os traquejos ganham identidade,
são chamados, profetizados, proferidos:
traquejos são signos esquecidos... 
eu mesmo serei um traquejo?

quarta-feira, outubro 09, 2013

Desenha-me um poema?


- Desenhar um poema? Um poema não é para ser desenhado!
- Por quê?
- Por quê? Por que ele é para ser escrito, lido e recitado.
- Escrever não é desenhar?
- Não. Não necessariamente. É. Às vezes é sim um desenho.
- Então, desenha-me um poema?
- Mas desenhar um poema e diferente de desenhar uma palavra.
- Por quê?
- Por que é, ora bolas!
- Você disse que o poema é feito de palavras e se pode desenhar palavras.
- Sim.
- Pode então desenhar um poema.
- Não. Temos regras para escrever um poema. É mais um cubismo que um desenho...
- O que é cubismo?
- São figuras geométricas aplicadas à pintura. Como se fosse isso aqui!
- Mas isso é um desenho.
- Sim, um desenho feito de figuras geométricas angulares.
- Então isso é um poema?
- Não, ainda. Um desenho bonito tem curvas e um poema não.
- Para que serve um poema e uma curva?
- Para retirar o pensamento da mesmice da reta.

- Não chore. Venha. Vou desenhar para você um passarinho.
- Um passarinho não é um poema.
- É sim, só que é um poema que voa! Isso! Vou desenhar um poema!
- Com cores?
- Com muitas cores!




deformações em dias cinzas

Eu já não vejo o pássaro verde,
já não espero por boas notícias.
Meus irmãos seguem sorrindo ,
satisfeitos com os dias nublados.
Eu me sinto um indesejado entre outros,
aquele que grita e deve ser calado,
um soco com carinho, sem nojo um escarro,
eu sinto que meu caminho segue delgado,
afunilando qualquer esperança
e antes que a tarde se apresente e apresente
a noite escura de sonhos baldios,
escrevo alguma palavra que não tenha o menor  sentido.
Do meu quintal, debaixo de chuva, vejo a Serra,
penso no alto, penso no caminho. Subi-la para quê?
Cá estão as luzes, as vias molhadas, meu desatino,
e o vento frio assovia. Eu não vejo ou não quero ver
o mal nascendo entre os meninos da noite.
Envelheci e vou me despedindo de coisas
e vou me prendendo ao meu verso
como um menino à sua nova brincadeira.
Vou contornando praças e jardins,
e olhando para o céu, atravessando ruas vazias...
eu já não vejo o pássaro verde, quiçá um urubu pintado!


sábado, junho 29, 2013

laterais

jamais olharam para o lado.
o lado era, então, o desconhecido,
era o escuro,
era o vazio,
era o fluído.

não teimavam em volta,
procuravam o infinito,
discutiam a política no sartrismo
e o poder no oculto.

nada, ao lado, observaram
buscavam imortalizar o futuro:
fruto nascituro.

se o chão não encerra o equilíbrio,
o sonho não é morte prematura.
se o que vai a margem não importa à criatura
um dia algo sufoca:
uma carta, uma imagem, uma palavra...

é quando tentam mudar o foco
e já não adianta olhar para o lado.

sexta-feira, junho 28, 2013

erros do inverno

tarde e cinza:
a tarde é cinza
sem ventos, sem chuva que molhe
a moleira
do pisquila adormecido.

o tempo de horas caladas
batendo palmas
à tarde
tarde-cinza-calada,
sem ventos,
sem chuvas.

e se absorto
reluzir um sol,
um deus morto,
deus da tarde de arrebol.

se nuvens cobrem
o céu
como um qualquer imaginário
véu:
componho para mim um pôr-do-sol!

terça-feira, junho 11, 2013

Tangolices e outros neologismos

Já passei da idade de me irritar com críticas,
já não tenho mais ideologias que teimam o anonimato.

Não tenho nenhum prazo
nem motivos para adulações.
Adoro as críticas que detonam os escritos,
mas com critérios que me revelem correções.


Não me movo por provocações,
mas provocado redijo, hoje, com calma...

Já não tenho tempo para tanto,
eu escrevo por desapego,
eu escrevo por espanto,
eis que escrevo... um tango!

segunda-feira, maio 27, 2013

confrontos


    




Devo aos teus olhos
a canção que nunca acaba!
Por que em mim paira
alguns dos teus vestígios, silenciosamente!
E essa presença tem uma melodia
que é tão suave como o tato
de um desejo sobre o outro!
E essa presença tem uma força
que é tão leve como o espaço
de uma brisa sobre o corpo!

Devo aos teus olhos
a imagem que nunca evapora!
Por que em mim tarda
algumas palavras quase ausentes!
E essa beleza tem umas cores
que são tão puras como o gosto
de uma noite em madrugada!
E essa certeza tem uns traços
que são tão profundos como as linhas
das mãos deslizando sobre a alma!


terça-feira, maio 21, 2013

os traquejos

Faço pequenos ajustes, vou pelo caminho mais claro.
Hoje já não faz sentido
sentir pena de estúpidos momentos mortos.
Só quero os traquejos mais úteis,
os que me fizeram chorar e sofrer,
os que me fizeram sorrir e amar,
os contrários são lindos!
Os traquejos também!

quarta-feira, março 20, 2013

sala escura



que teus olhos venham me dizer
mas que não digam subitamente
pois que a noite cai cuidadosamente
atada às flores do entardecer.

que teu olhar espelhe a tua alma
em cada simples movimento das retinas
pois em tuas profundezas femininas
perdi-me em meus conflitos, perdi a alma.

e te olhando, assim, frente a frente
o que escondias se torna transparente
e eu sinto a verdade doer aguda

parece que tuas juras eram delgadas
que tudo que fizestes não era nada
que me trancaste nesta sala escura.

terça-feira, março 05, 2013

uma da manhã



sei tão pouco do agora
como se esquecido em mim
estivessem todos os minutos
precedentes.

Talvez quando vier a aurora
eu esteja ausente
e nada terá aquele sentido.

e se quando eu voltar
de outros mundos, outros outros
poderei dizer:
agora é hora de dormir!


sexta-feira, fevereiro 15, 2013

obvio’scuro




Sentai em minha Biga
Falai de meus texticulos
E esquecei Homero homem e descendente

Quede a estrela meiga cadente
nua: artigo de deusa
haplologia sofregada
de outrora, c’outro brilho,
outro regalo?

Sentai sobre os pré-conceituoso
               apótegmos!
Tchá na mão, quede Lêda?
Jaz pilado?
Falai baixo:
acho que alto demais chegamos!
Estancamos nervos,
líquidos versos
e o universo
tornou-se
obscuro! 


sexta-feira, fevereiro 08, 2013

contemplação





Como se fosse sombra, amparo a luz;
grito quando o silencio chia
amo, e  o amor é miúra.


Como se fosse fé aceito a cruz,
tento me esconder na poesia
e gosto das manchas da lua...



sobre o poema







Eis que um poema nada vale,
mas vai além de qualquer vale
e leva o valor de um vento
ou de uma tempestade! 


segunda-feira, fevereiro 04, 2013

minh’alma (?) não cabe no corpo






Minh’alma é o meu mundo,
é o teu mundo,
quantos mundos adivinhar.
Cato conchas coloridas,
o sol se esconde no mar
calando minhas mãos,
mas ai de alma desistir!
Faço um colar de lendas
a espera que compreendas,
que te guardo num pedaço de papel
e te escuto, sem querer, ao olhá-lo
                                               e choro!
Molho teu colar de lembranças,
o meu corpo te espera, calado
para desfalecer de amor.
A carta desfeita pelo olhar
conserva a voz da palavra.
Eu luto,
eu grito teu nome,
eu quero teu gesto calado,
o olhar de um talvez possível;
a mão, leve, sobre a sombra
que é o meu corpo perto do teu corpo:
conchas moldadas no seio do amanhã!
Teu beijo é eterno
como a espuma sobre a areia,
como o vento que move as dunas
do meu tácito deserto.
Encosta teu peito feroz e cansado
sobre os meus seios,
demora em mim tuas poucas palavras.
Há um pedaço de vida em cada suspiro,
Há uma canção imortal nos teus
                                            movimentos.
Deixo-te exigir ao passo que serves:
o que há de melhor no corpo
é a sua capa protetora,
é a sua eterna sonhadora pele!



b. monvinne

quarta-feira, janeiro 30, 2013

o vento








O vento vence
a ilusão de repouso.
E toca a grama
e limpa a cama
e vara a alma...




- Ah!

         o vento revira a alma!

terça-feira, janeiro 29, 2013

felicidade e vida


A felicidade é para os atrevidos
                                               da tristeza.
Viver é para quem ousa
                                   ser.
Vou contar para quem possa
                                           ouvidar:
viver é antes de tudo
                              crer,
viver é antes de tudo
                              acreditar
que vida mesmo já basta
                                    em si
e não nos basta
                     duvidar.


A felicidade é para o cultivo
                                         da espécie.
Para ser feliz não é preciso
                                         prece.
Amar é ser amor, não ser
                                     amante.
Amar precisa leveza
                             cortante,
muito carinho
                   impreciso
que é para precisar
                          mais carinho
e deitar olhos
                   mais brilhantes.


A felicidade é para perpetuar
                                           o instante.
A cada segundo a alma
                                  se expande.
Fluir é ser menos sólido,
                                   mais líquido.
Fluir é escorrer,deixar-se
                                      rio
que é para molhar, molhar
                                       as pedras,
molhar o mar com maquiavélicos
                                                    ciclos,
com cristais coloridos
                        de primavera. 

a palavra não adormece!


Não feche este livro de paisagens
encerrando um meio, um termo
entre palavras descontínuas.

A palavra não adormece!

Não feche estas mãos de sulcos
retidos no tempo.
Não tente matar o sonho:
de sua pele resiste a manhã
e os pássaros voam sobre seu repouso!

O vento traz os restos da rua,
da rota, do trilho, do corpo
que ainda roça anteontem.

Não feche... escreva!
desse ritmo de gestos imprecisos,
dessas anotações tardias
que soam silenciosas e breves,
nasce o reflexo do expurgo,
que se encerra em nós
tão feio e tão belo!

Não perca a fase da frase que os olhos se fendam
e rasgam roupas, cortam hipocrisias,
queimam mentiras tantas,
tamanhas
palavras
despidas
...
Não,
não feche o grande livro da vida!

A palavra,
a palavra não adormece!

quinta-feira, janeiro 24, 2013

por cada encaixe perfeito



uma sobre a outra, vai anoitecer
como se importasse a cor do céu
como se algo maior acontecesse
quando os dedos se cruzam, noite
cobrindo o que queima, o que inflama
gotículas de desejo e saliências

pernas são, braços são, corações são
possíveis de emaranhamentos atemporais
e sãos são dementes de solução fremente
febris deliram em medidas planas, alquimias
de luzes e sombras e sonhos de outro e um
desfazendo paranoicas delinquências 

um beijo, muitos beijos e línguas
trançando na roda dos mirantes fechados
rodopiando salivas e instantes voluptuosos
na penumbra de não serem escuros, movendo 
traços e cores, madrugando todas as manhãs
uma sobre a outra, por cada encaixe perfeito! 

Psiquê & Frenesi





Frenesi amou a Psiquê.
Ele o mar, ela a estrela,
tão distantes de vingarem 
tudo que lhes consumia a alma.
Então, não se sabe por que, 
numa integral desilusão, 
Frenesi refletia Psiquê 
dentro do seu coração.



Tantos beijos estelares
desfizeram-se nas águas frias,
 pela noite enamorados
criam que talvez um dia
eles pudessem ser de fato
o segredo do universo
na eternidade do espaço.

Psiquê era a ânsia da noite,
Frenesi o desespero do dia.
Este tempo do peito somente
prova que o amor vicia.
Isso quando as nuvens permitiam,
mas quando um sopro indiferente
declarava e eles sabiam:
nada é para sempre!

Foram as lágrimas de Psiquê
que num delírio astral
de desesperança lauta,
cobriram Frenesi de sal,
encheram-no de paixão.
O que seria da alma
se não fosse a tentação?

Frenesi tanto amou Psiquê,
que além, muito além da distância,
inexoravelmente aglutinada
tanta energia de repente,
como corpos inflamados de sonhar,
explodiu feito estrela cadente
e nasceu estrela-do-mar!



bárbara ramos



quarta-feira, janeiro 23, 2013

canção da praia virgem




Areia nua, clara, deserta
de passos, de restos, de sobras
pequenas conchas, a certa
altura: verde, das folhas, nas rochas.

Céu aberto quase sempre,
sol queimando o corpo exposto
vento dançando qual serpente:
lentes escuras sobre o rosto.

Mar verdejando os olhares
ondas: que te queres o tempo?
para todo e qualquer movimento 
sonhos perpendiculares.

Espuma, estiagem, a quebra 
deita toda a força sobre a pedra 
e a imagem refletida reverbera
o canto: fluído de uma espera.

Virgem, já não pareces, uma lenda 
nem tua areia, nem teu mar profundo
nem teu céu, nem tua espuma.
praia: lindo e pleno é o teu conjunto!





domingo, janeiro 06, 2013

a paixão segundo clarisse


“Meu segredo é a vida!"
Ângela Pralini





Eu me dôo,
eu me valho.
“É assim: ?”
Sou pedra rara,
sou mistura confusa:
gosto de estar jade,
gosto de sonhar topázio.
Há um certo gosto no acaso!
Eu reúno a alvura da aurora
com o êxtase provisório do ocaso
e subo e frijo e rezo.
Rezar me crê ereta
E eu tremo.
Há em mim uma variação do tremer
que me deixa em cacos,
que me converte em pedaços.
“É assim: ?”
Eu me pauso,
eu me retrato
em grafismo abstrato,
eu me exponho em camaïeu:
um jardim molhado,
um estado de coisa que abomina.
Eu mulher-coisa,
eu mãe-coisa,
musa coisada!
Eu que não caibo na casa, no carro,
                                        no relógio, na joia,
no gradil de ferro,
no medo de viver
e juro em tom acerbo
adoçar o meu segredo.
Eu saúdo o humorismo da borboleta,
eu me procuro na lata de lixo,
no grão da ampulheta,
na caixa de prata,
envolta em matón-de-malea,
no chiado da vitrola.
Eu procuro o meu abraço adstringente,
o meu toque emoliente,
o meu beijo estrugido.
Eu me vejo
e me arrepio.
Eu me elejo,
eu me elevo,
retiro os escombros
e me reconstruo.
Sou-existindo a vórtice que perturba,
Sou a ultra-luz,
o ultra-som,
o silêncio da natureza
em cores de lavrar:
verde-esmeralda, branco-gritante, azul-rei,
preto-severo, roxo-distante, amarelo-doido;
sou o vermelho-escarlate que mancha
                                                   a última carta,
a carta que nunca servirá
ao amado,
a carta que esconde as lágrimas
e que subverte a vontade de ser
indescritível.
Eu me calo,
eu me afasto
do fardo que e o meu corpo
e por vez,
por um instante eu fraquejo,
eu me aflijo,
mas assim: !
não desprendo meu segredo.
Eu me doo,
eu me valho.
Eu que me amo e não falo!

quarta-feira, janeiro 02, 2013

álbum antigo


A pouca luz, a pouca sombra,
o sopro poente fremi...
Essa presença, esse perfil,
esse movimento silencioso do tempo
torna perplexos-ecóicos
os sentidos do corpo.


Mesmo que as palavras
adormeçam suspiradas,
detenham-se em sonho
com soslaios rudimentos,
mesmo que a sinergia dos amantes
fecunde solos áridos
e lance anelos e rupturas
e negações concubinatas,
encolherás todas as fibras
à recrudescência das nuvens
para sorver suavemente
as líquidas quimeras do teu relicário.


Alada suspeitas Ismália e voas
ambivalente... sobre o éter,
sobre os medrantes estorvos
do que infinda nas mãos, nos olhos
e resta acre sobre os lábios
como sombra, como luz
como marcas e resquícios...
como o infinito...