quinta-feira, agosto 03, 2017

Tentativa De Gritar Tua Palavra Em Silêncio








De teus dedos fluí o silêncio...
Como canta o teu espanto
contra(?) o mundo e suas margens,
entre(?) os erros e os seus equívocos,
e do que fazes tua miragem
poetalítica-mitótica!

Assim, repara:
palavras flutuantes, mergulhantes,
                                           afogantes
na forma argilosa do tempo,
no tempo pedaço-partido-atemporal:
cutâneas!
É em tua pele que a grafia arranha,
tatua, lasca
os sentidos sentimelosos, sentibelos,
                                       sentimentalizados!

Então, respira:
frases lançadas, trançadas, poluídas,
sonolenta realidade fugitiva,
pelas dobras da carne e suas mitologias,
nas expostas amostras: poesia!

E, de tua voz...
ah! de tua voz
o silencio e o grito;
a tempestade e a calma-
- ria; distâncias refletidas que conclamam 
substanciosas noturnas luzes,
olhos felinos revelindo
em teu canto...

outros cantos!


domingo, abril 02, 2017

encomendas e pedidos


Soneto de Danúbia




Quando te amo simplesmente à mínima hora
e sobre o teu corpo o meu corpo se assegura,
sinto-me a tarde plena da noite e a aurora
que desenha em mim eternamente tua ternura.


O teu sorriso é como toda flor de todo dia
e o teu olhar toma meu corpo por inteiro.
Perto de ti minha alma brada de alegria,
longe de ti se desespera o meu peito.


Eu sou este teu homem, teu muchacho bajo
que te olha com paixão e se entrega imenso
a cada beijo teu, a cada movimento rente,


tu és a força que envolve, o vento
que tateia a natureza danúbia do presente
e que me leva sempre em teus braços.


sábado, março 04, 2017

efeitos da natureza


Enlaçado em tuas fagulhas vão meus olhos,
como criança rodando em noite de fogos,
como criança jogando balões, riscando traques
e arriscando ataques luminosos contra a vida.
  
Enlaçado, meus olhares, em teus colares
seguem todas as cores de teu caminho
e tu, moça pulsante, sorrindo... sorrindo
com efeitos refeitos de solos lunares.

 Nem pensas em redemoinhos,
não decreta ventos ou tempestades,
mas saibas que travas a batalha

Que brasa do céu um desvario,
de relâmpagos e raios faiscantes
mesmo que não venha a água!

o resto do sonho


  


Resta um pouco de um resto açoitado
pelo vento que teima a afronta,
vem limpar a poeira do passado
e deixar o que realmente conta.


(...)


Eu concentro o meu centro no que faço,
eu mergulho na vida a minha pena,
eu seguro, eu aperto, faço o laço
e envergo a palavra no poema.

Eu descrevo, eu desejo, eu insisto,
tento romper sem vão o verso.
Vou aos poucos despindo-me de mitos
e deixando para trás velhos desertos.

Eu construo o escuro do segredo,
eu reclino o enigma do nada.
Estridente grito de medo,
eu sou feito de nuvens sonhadas.

E tudo que vejo e sinto
são teus olhos tristes e cansados
condenando-me, me ferindo,
desejando poemas queimados.


(...)


Calculado – noves fora nada –
o baú de estórias está vazio.
Recolha a última palavra
como o mar sutil acolhe o rio.

E o poema, então, adormecido
vingará quando o sol desvencilhar
o sonho: flor do abismo

que sangra sem estancar! 

o Ser evolutivo





Se aquele que foi
:
fosse
:
e noutro tempo
sem glórias
ou conquistas,
somente voasse,
não como os seres celestiais
imaginados,
mas como uma folha
sob as proporções do vento,
caísse sem mácula
sobre a terra
e semeasse,
não um novo e belo mundo,
mas a força evolutiva
 deste:

.

quarta-feira, janeiro 18, 2017

DUO IMPERFEITO




Meu amor sonhávamos desnudos
quando inda éramos crianças.
Tu com tuas tranças,
eu com meu orgulho.

Brincávamos no escuro da estrada
e te amava a perder de vista...
Eu era o burocrata,
tu eras a artista.

Meu amor corríamos às léguas
debaixo da chuva rala.
Eu que molhava as pernas
tu encardias as anáguas.

Morremos no reflexo do açude,
quereríamos a vida à morte.
Tu com teu jeito forte,
eu com meu jeito rude.

Mas eis que o tempo esbarra
na curva do destino.
Eu já não sou teu menino,
Tu já não és minha arma.

Agora que estou-ser-idoso
rev(ejo/ivo) na crônica passada
teu gosto enquanto flor baca...

Eu, que queria ser tudo:

ponto final de uma farsa!

domingo, janeiro 08, 2017

estudo instrumental




                                             estúdio improvisado

Os instrumentos são iluminações dos homens!
Vivem nas mãos, nos corpos,
nos corações!
Tardam fins que choram 
e riem - em dias de chuva, em dias de sol. 
Os instrumentos...


Os instrumentos são matérias do infinito imaginário,
colorem as paixões de infantis delírios,
gozam de olhos fechados,
dormem. Os instrumentos dormem!


Os instrumentos dormem explorados
e sonham-se novos
precisos em novas façanhas.
Lutam de igual a igual.


Um dia compreenderão os continentes,
deterão som, movimento, intenção,
serão
tão seres quanto o ser que os criou,
quiçá se perceberão
superiores.
                                                            Os instrumentos...
                                   Os instrumentos tentarão...
          Os instrumentos chegarão ao céu?
                                              

                                                                       ... pelo mar?


mirar-te



Olhos para olhar
as diferentes luzes dos teus olhos,
mirantes adormecendo em teu mirar
inquietante...

(Dizes, com retinas:
Ser feliz, minha maneira!)

Reflito-me em tuas janelas
e a alma segue feminina
seus mecanismos de ver além:
cores não há, só teu olhar.


E ressente mirar-te!