terça-feira, dezembro 08, 2015

causo de amor



dito houve que certa dessas passadas
geraldinho coração sem dono
deu-se de meter com paixões
por moça recolhida, flor em broto
enlouqueceu de delicadezas
fez que fez por enamora-se e
quando que quase conseguisse
sorveu tragos e tragos, marchou
à casa dos descasamentos
deu vexame, berrou palavras
da noite veio, pela noite foi-se.
Dias viraram, surgiu-se aluído
por dona de fazeres distintos
- curara-se com duas luas!

quarta-feira, novembro 25, 2015

soneto frio

que tanto tem de ter à força
com qualquer ideia superior?
que tanto caos e morte e dor
mareja os olhos, seca a boca.

que canto tácito em despedida
soa em silêncio ao vento frio?
que pranto paira sobre o vazio
deixando a alma meio perdida.

por tanto ódio e desesperança
ao deus que ampare a covardia,
deito meus versos de comunhão.

àqueles que sofrem - o perdão,
rogai pelos mortos de todo dia
por bem tardar essas vinganças.

terça-feira, novembro 03, 2015

tempinho para amar

se é de tempo que precisamos
quando ao tempo não nos damos,
vamos
entre um e outro plano,
em uns e outros planos
e enganos,
pelas horas que passamos,
pelos anos que desconfiamos...
e amamos, mesmo sem tempo!

curta metragem




uma imagem perdida sem explicação
cercada de sombras, de silêncios
um ruído no canto da tela
e o olhar pálido de uma vela
o vento, o vai de cá e de lá
fremir de luzes e trevas
outro ruído e o mesmo sorriso
a mesma mandíbula, o mesmo asco
o medo de ser verdade
de não ser um sonho e
aquela imagem no espelho
ser só uma ilusão mimada
de um suspense nascituro.

segunda-feira, outubro 12, 2015

crônica passada



Depois da última lua de sangue
as coisas ficaram embaçadas, desfocadas, aluídas.

Ao som de Wild Horses percorro todo meu eclipse,
com pegadas caducas, amareladas,
em busca de iluminações.

Depois daquela noite alguém em mim se despediu,
assim como quem vai sem volta e sem destino.

E ficou tudo tão gris que,
mesmo cavalos selvagens não conseguiriam me levar embora. 


sábado, agosto 29, 2015

soluço

Eu sei, não fizemos tanto...
no último ano não nos atrevemos,
ficamos olhando a banda da janela,
passar e passou e passamos
seguros pelas vidraças.

Eu sei, não gritamos o bastante...
faz tempo que tudo isso nos exaspera,
mas não nos revoltamos febrilmente
como devíamos, fomos calados
para longe de tudo.

Eu sei, não amamos como antes...
agora sentados lado a lado, não nos vemos,
amiúde em redes sociais ou pequenos sites,
como em abraços atemporais e beijos,
por noites nunca antes perpetuadas, e...
saudades!

quinta-feira, julho 02, 2015

enquantos...

Enquanto o tempo é detido,
passivamente,
entre um conselho e outro,
a lua qual cheia e dourada,
resiste em surgir,
entre nuvens diluídas e gélidas.
Enquanto a lua luamente compactua
com essas proporções que vem e passam,
vou-me detendo nos papeis de correção
e notas, temporariamente temporais.

terça-feira, junho 02, 2015

pequenas dimensões do ser




E se voar for preciso,
porquenãosernuvem?



E se for preciso pousar,
porquenãoserchuva?

sábado, maio 09, 2015

ordinários poéticos

XX








Eis que um poema nada vale,
mas vai além de qualquer vale
e leva o valor de um vento
ou de uma tempestade!




XXIV








Cada poema é parte de um diário,
um diário de bordo,
de uma viagem sem noção de espaço

nem de poro... 



Do livro "Destitulados" ainda por editar.

quinta-feira, maio 07, 2015

projeções de haver

a Arnon Romano


enquanto houver literaturas,
não importa quantas usuras,
a estrada dos dias será válida!

enquanto houver amigos,
não importa os desatinos,
a física dos movimentos será mágica!

sábado, maio 02, 2015

manhã ambígua


foto do blog www.dilemasepoemas.blogspot.com.br





Ninguém vai acordar essa tal manhã,
ela continuará adormecida,
com seu cinza, seu vento frio
e seus sonhos!




domingo, abril 05, 2015

amanhã em sonho

                                                                                           a Barbara Cristina


Um pedaço de mim em cada estrada,
em cada despedida uma lágrima,
em cada fim de tarde uma lembrança
e fios de cabelos pelas praças.

Enquanto eu sonhar,
meu sonho será meu fogo, minha chama
e eu serei eternamente
aquela que viveu barbaramente

terça-feira, março 17, 2015

o poema







Estou escrevendo um poema
que diga o que eu quero,
que pense o que eu espero.
Que seja impossível,
talvez improvável,
mas que possua defeitos;
não é preciso ser perfeito
pois a perfeição é objeto de museu.
Nem quero que fique
esquecido no papel.

Quero amá-lo calmamente
Pois é preciso paciência para amar
E para acrescentar novas versões.
Um (auto)poema
Repleto de intenções.
Um poema fosforescente,
A reter teu escuro,
teu olhar indecente.

Estou escrevendo um poema
que não seja racional
pois o raciocínio permite o engano
e não desejo um poema enganoso.
Quero o poema certo na hora certa,
um poema eterno
que não seja cego como os que julgam;
ao homem o invisível!

Estou escrevendo
um poema indiscutível,
quero que indague sentidos,
que faça chorar
que faça sorrir
um coração,

simplesmente...

segunda-feira, março 16, 2015

poema de capa



                                                                                                           a Rogério









Na capa da poesia
podemos dizer o incontestável,
podemos ser fantasmas
de nossos próprios medos.
Podemos até querer o impossível
dentro de poucas palavras,

(o gesto mais nos importa!)

ou podemos resumir da vida
o inexplicável.


sexta-feira, março 13, 2015

B.B.B. 2015




Com quantos paus se faz uma canoa
para me ausentar desse 1984.
Eu que não tenho partido, 
eu que não sou amigo
do inexistente Goldstein,
tenho medo da censura de não ser
corruptível mesmo sendo trabalhador.
só por não ter partido e não ser traidor!

quarta-feira, março 04, 2015

meu nome é mulher

a Bárbara Ramos



Meu nome é Mulher, sem status de deusa,
distante, anos luz, do produto que me querem!
Meu nome é Mulher e danço com universo:
que para tantos é antimúsica!
Nada podem contra meu olhar: eu gero!
Do meu corpo nascem os sonhos!
Os filhos que me tomam as vestes,
que me desnaturalizam em imagens poluídas,
romperam de minhas entranhas mais límpidas!

Meu nome é Mulher, mas bem poderia ser Homem
que todos são de mim cria e imaginários!
Na busca de ser o que eu não entendo
tentei ser criadora e criatura, tentei ser fantasia,
tentei ser uma modelo da hipocrisia,
mas meu nome é mulher
e se inscreve com grafias absurdas.

Meu nome é Mulher, meu nome é Mãe,
meu nome qualquer é meu nome Minério:
tenho minha essência de cores,
todas as formas se projetam dos meus olhos,
todos os dias nascem da minha alma
e resistem ao canto da minha noite.

Meu nome é Mulher! Meu corpo é sagrado
com suas dobras e rugas e excessos e curvas
nunca acentuadas pela fragilidade da moda.
Meu nome é Mulher!
Meus pés não conhecem as fronteiras,
não conhecem as nações, não conhecem esses hinos.
A minha estrada segue de mim para o horizonte,
meu tempo não admite ausência.
Meu nome não é aparência.

Meu nome é mulher!
Mas podem chamar-me de Ventre!
Mas podem adorar-me Vida!



quinta-feira, fevereiro 19, 2015

meus olhares oitavados





é lindo ser oblíquo!
apraz ser um sopro átono!
a mesma mirada de Ésquilo
deflora os velhos toques cálidos!

Dê-me a tua vênia, teu salve
que me salva o ingresso no alto!
Dê-me escalas dos olhos, deita-me fausto
entre cores e cheiros e veigas!


Pois que é lindo o desalinho!
é lindo as atmosferas líquidas,
é lindo ser um ser sem destino,
a evaporar em busca da palavra mítica



que nunca desdenha a alheia desgraça,
nem se vangloria do desengano,
a ele música é o grito do horizonte humano
que desprende olhos, que não se basta! 

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

tu, um desenho


                                                                                                   Camila do Rosário





Mulher de sonhos azuis
perdoa-me se te desfiz
porque eram mais lívidos os meus sonhos
e porque os sonhar me era custoso.

Eu não tinha... eu não havia...
Alguma forma escondida.

Mulher de vertigens, inclinada.
Teu silêncio é a voz que anuncia a aurora
E o teu olhar é celeste,
é silvestre:
espinhos do campo!

Mulher azul-distante,
voluptuosa flor encarnada.
Repousas do outro lado do abismo.
Percorrê-lo? Jamais? Sempre?
Lançar-me?

Mulher morta, paralítica, imóvel,
adormeces um desejo em cada traço.
Tu, um desenho,
ou ainda, um esboço.

Então podes me olhar:
quero perceber a cor de tua alma,
que o corpo
já sabemos,

flui da esferográfica!




quarta-feira, fevereiro 04, 2015

mais cores!






A pele do planeta precisa respirar,
precisa também de água,
mas criamos pavimentações
cada vez mais impermeáveis
que é certo que suas veias,
seus líquidos subterrâneos
mínguam, esvaem-se
na sede infinita das cidades
e dos seres habitados
em suas particularidades de consumo.
Cada dia mais concreto, cada vez mais asfalto,
a cada tempo mais refletores, mais vidros e mais espelhos,
mais carros, mais baterias, mais e mais e mais...
Recursos hoje faltam, amanhã findam!
De nada vale uma pele morta e uma imagem cinza!
Deixem as superficialidades
permitam que as cores que medram de dentro da terra
revelem-se aos nossos olhos!




domingo, fevereiro 01, 2015

aquáticos




Um pensamento qualquer: água...
desvios de raciocínio: rio...
falta de síntese: mar...


sábado, janeiro 31, 2015

AH!





Ah! Que eu nunca entenda como flui a vida,
Que eu sempre a permita que me arrebate um golpe,
Um sopro e envolva leve, leve, levemente.


Súbito delírio:
o sopro de um inverno frio
levando as nuas folhas sob a lua.



E a vida se escreve
Com o dedo, na areia...




Ah! Que eu nunca julgue como flutua a vida
Como o sangue corre abrupto e inunda as veias,
Um pulso e pulsar tão breve, breve, brevemente.


Coração no ápice:
o silêncio de cada manhã
iluminando as pedras molhadas de novas imagens!




domingo, janeiro 25, 2015

manhã depois da chuva

Quando chove no cerrado,
tudo seco de sol queimante,
fica verde até os olhos e
o cheiro de mato molhado,
desce dos céus mais etéreos
e pousam sobre o terra
como um jardim de sândalos
que, é certo, damas da noite!

sexta-feira, janeiro 09, 2015

política poética







Pois que meu verso
tem que ser maior
que os teus versos?
que o teu erário?

Serias e o teu universo
que colorem o meu imaginário?

Qual movimento surdo
darias aos meus olhos
de brincador de amor errante?
de insignificante operário?

Estarias e o teu inverso
manifestando delicados relicários?


quarta-feira, janeiro 07, 2015

sem volta?






Vai-me um docinho?
Não obrigado!
Quase morri essa noite.
Verdade, quase!
Eram-me estresses ou vaidades?
Penso os dois!
Bebi e traguei o que não me devia?
Devias ter tento!
A quantos ando agora?
Pensando em morte!
Sinto-me dores em meus sonhos?
Devias ter senso!
Agora, sou só pesadelo ou medo?
Cisma, cisma!
E a poesia é-me prosa?
Já fora embora!
Confirmas a minha desalma?
Não, não perdeste a fé!
E o honro-me e o respeito-me?
Saiu pela culatra!
Ácidos queimam a alma?
Desintegram sua textura!
Posso voltar-me no tempo?
Creio que é tarde!
Devo me concentrar no breve?

O novo é tudo!

terça-feira, janeiro 06, 2015

numerologias







21 maneiras de contar 52, 54, 55...
Números de poéticas urbanas:
um plano, um jeito,
77 conceitos do engano.


Alguém articula 81 argumentos
descabíveis.
Romário veste a 11
no selecionado canarinho.


35 modelos de conduta
                   de doutrina
                   de adestramento.


Nenhuma teoria denota 99
por cento 
de estranhamento:
ou 98
ou 100!

É para que deixe de lado as cores
as pinturas, as figurações,
as numerologias
das trancas,
as portas,
as janelas,
as frações
quaisquer desses ângulos
pitagóricos. 

posso, não posso...





Posso te contar o arco-íris,
cores de que luz do céu.
Posso rascunhar meu nome
num pedaço de papel.
Posso te mostrar à noite
todas as constelações.
Posso desenhar um plano
para outras dimensões.

Posso te levar ao carrossel
que gira amores de jardim.
Posso te tocar uma canção
para que cantes para mim.
Posso te sorrir sem jeito
se me olhares a sorrir.
Posso te gostar inteiro
sem medo de me partir.

O que eu não posso
é  te levar em mim
se não for numa abstração.

A paixão tem dessas...
quando, eu não sei,

tempo, eu pensei que não!

que coisa





Que coisa os corpos celebram?
Vem desnudo do coração?
Ou ressoa na superfície,
intacta vertigem
na película da razão?


Que coisa se incorpora
e pede aceitação?
Quando, deveras, já é parte,
da pele covarde
e medrosa da solidão?


Que coisa é coisa então?
Que coisa é coisa então?
que coisa, então?
que coisa...


O que é coisa e calor?
Que figura aciona a paixão?
Vem das estruturas anacolutas,
das disputas e conjunturas
escondidas no porão?


Que coisa é coisa então?
Que coisa é coisa então?
que coisa, então?
que coisa...

longe, amor







Se você vai longe amor

eu fico de butuca na sua distância,

na sua distância...

Eu amo você até a dor

de não lhe ter nos braços

rara pedra preciosa!



Quase nunca estou em mim,
quase sempre em você.
Adormeço quase clarim,
Sempre tardim ouço você.


Se você está longe amor

eu faço ronda sobre-humana

sobre o seu retrato.

Eu ouço a sua canção

e da sua solução  

você é o espetáculo.


segunda-feira, janeiro 05, 2015

Óóóóóóóóóóóóó....

a Miguel, José e Ângelo



Olha que vai o tempo sem demora,
passando pelo meio-dia
como se fosse meia hora à tarde afora
de um dia quente que a ducha estorna.
Dia de visita atrevida, sem aviso,
como meio termo do improviso,
só por achar um poema meio esquecido
e querer recitar para amigos.

Vê que ficar se fez necessário,
sem prévio agendamento de calendário,
sem provisão de qualquer erário
e pela satisfação cardionário.
E quando se fala de quem aparece
de repentemente surpreendente
e faz lembrar que acho que a gente
havia, decerto, conversado pela mente

Observe que na fita que eleva os pés
tentam equilibrar-se angelos e josés,
e em terra, confabulando alguns revés,
seguem fumando eus e miguéis.
E a música nos eleva impassível,
já faz hora de partir ao indivisível
momento de levar o hortelã, previsível,
'se não posso possuo o impossível!'



quinta-feira, janeiro 01, 2015

vermelho-mentira


só no discurso,
nada em curso,
só uma distração de palavras,
para a crença
em lendas
em mitologia
em comerciais de margarina
em folhetins
de uso sanitário.
ano novo, novos ovários,
novos otários,
novas velhices
estampando
paredes rachadas,
um novo reality
uma nova maneira
de não ser novo,
nem no discurso
e sem curso.