sexta-feira, outubro 31, 2008

um antes

.

Faz horas que observo o céu da noite
e sou um antes de ser
com desejos que fibrilam nos dedos
de mãos espalmadas e amores antigos.
Adormeço como uma distância de estações
e com certa profundidade marítima
minha velocidade precisa ventos fortes que avançam pela madrugada.
Enterneço com teu vulto adormecido:
cada planície e cada depressão e cada elevação de que dispões.
Persisto o passo à tua respiração aberta.
Que sonhas, eu me certifico
e amparo todas as minhas texturas
em teu sono para amanhecermos
como uma só concha!

quarta-feira, outubro 29, 2008

trechos antigos

" ... e amiúde me toca uma lembrança,
sem que me avise tuas palavras me envolvem.
Aquele teu último poema para mim
que me confessas tudo o que eras na verdade:
a fragilidade da vida se erguendo da queda!
(...)
...e há a queda maior entre meus dedos,
o meu olhar lançado ao chão, teus olhos
que nunca me olharam com presença,
sempre em outro canto, em outro corpo,
em outra condição.
Cai em teu passado e em meu passado cai
entre dias e dias de pedaços de noites,
entre uma e outra lágrima,
apagando as velas,
molhando grafias,
tornando saudosa minha festa
de mil cores desbotadas.
(...)
Assim dobramos ano após ano:
sem amor que seja, sem cuidado humano,
sem natureza!
Assim fui desprendido de meu passo,
como uma sombra rôta e pouco retinta,
meio desfocada do caminho,
no melhor da própria cena
e entre alguns poemas."

terça-feira, outubro 28, 2008

póstumo

Eu sempre soube:
o lance é a morte!
Que não me meta a vida nesse dito.
A força de um sertanejo,
que o sertanejo é antes de tudo um forte,
está no suporte da certeza de morte torta,
seca de secura exposta,
pálida imagem de olhos cerrados.
Grita e a morte é um estado poético conforto:
melhor poeta, que seja morto!

segunda-feira, outubro 20, 2008

aos poetas do mundo!

Versos, além dos versos...
metáforas, além das metáforas...
palavras, além da palavras...
sonhos, além dos sonhos...
ah, os poetas!




pelo dia do poeta, este celebrado ser póstumo: que morre em cada poema um pouco e que vive as inquietações humanas ao extremo. A eles o meu eterno respeito, admiração e cuidado!

domingo, outubro 19, 2008

meu nome é MULHER

p. prearo



a Barbara Ramos


Meu nome é Mulher, sem status de deusa,
distante, anos luz, do produto que me querem!
Meu nome é Mulher e danço com universo:
que para tantos é antimúsica!
Nada podem contra meu olhar: eu gero!
Do meu corpo nascem os sonhos!
Os filhos que me tomam as vestes,
que me desnaturalizam em imagens poluídas,
romperam de minhas entranhas mais límpidas!

Meu nome é Mulher, mas bem poderia ser Homem
que todos são de mim cria e imaginários!
Na busca de ser o que eu não entendo
tentei ser criadora e criatura, tentei ser fantasia,
tentei ser uma modelo da hipocrisia,
mas meu nome é mulher
e se inscreve com grafias absurdas.

Meu nome é Mulher, meu nome é Mãe,
meu nome qualquer é meu nome Minério:
tenho minha essência de cores,
todas as formas se projetam dos meus olhos,
todos os dias nascem da minha alma
e resistem ao canto da minha noite.

Meu nome é Mulher! Meu corpo é sagrado
com suas dobras e rugas e excessos e curvas
nunca acentuadas pela fragilidade da moda.
Meu nome é Mulher!
Meus pés não conhecem as fronteiras,
não conhecem as nações, não conhecem esses hinos.
A minha estrada segue de mim para o horizonte,
meu tempo não admite ausência.
Meu nome não é aparência.

Meu nome é mulher!
Mas podem chamar-me de Ventre!
Mas podem adorar-me Vida!

sexta-feira, outubro 17, 2008

adianta?

(...)


Adianta a citação sem contexto e sem nexo,
escrever preenchimentos de anteontem?
Adianta o protesto sem pretexto,
gritar argumentos amarelos e radicados?



(...)

quinta-feira, outubro 16, 2008

la Grenouillière


Renoir, La Grenouillière


Foi lá,
foi lá que as sombras se perderam
nas ondulações do Sena.
Foi lá que pincelaste um poema
de silêncios e paragens.
Foi lá que flutuaste em pequenas barcas
de remos e rupturas d'água.
Foi lá que as tuas senhoras de claros tons
e rosas de amanhecer e de alvo nublar
sobre a ilha manchadas com suave movimento,
refletinham no espelho do olhar.
Foi lá que ouviste Manet te contar...?
Se foi, guardas com teu zelo de espectro
cada palavra possuída além da tela!

quarta-feira, outubro 15, 2008

Figura-Fundo

Via o desejo, antes, e compreendia que eu
queria, mas eu... que era só um desejo
mais e mais até morrer, querer.
Com exatidão, supunha mirar: meu coração
ao horizonte, desvairado, entregue...

Tive, tempo para transferir certas linguagens,
ter, na plenitude das horas, contemporaneidade
ora regredindo, passados, por momentos
à vez e na tora!

Ingenuidade, ganhei corpo, cresci na jaula e
deixei-me, só percebia, de compreender – e tudo
como, modificara, se fosse um momentâneo
ao arrepio de tantas explicações...
Propus-me, ganhar em cima, em baixo, dos lados,
pelas beiradas comer insatisfeito, sedento,
roente doente :alta nutrição de quinquilharias,
transbordante inquietação nas águas cranianas,
meus coágulos do consumismo:.

Não vejo mais o desejo, não compreendo o eu,
sequer suponho o meu – coração.
Não mais mirei o horizonte,
contas a pagar, me, algemam no ontem eterno,
gestos :inconstantes e insentidos: de desusos
o pensamento, comumente a verve, destrona.

Intuição: parece-me, seguro os pés distantes!
Não vejo – sinto, agora, único, em corpo meu,
de veias minhas, mentindo-me novos signos,
outras culturas detendo minhas noções,
meus sonhos, de possíveis, povoando
imagens (e agora não quero mais) de posse (possuir),
vazias, inúteis.

Vê o desejo, depois, e compreende. Ele
quer, mas ele... que é só um desejo
ademais, até não mais viver. Viver...
Em pessoa, pretendo e méto, primeira,
assumir-me contrastante e diverso...
Como em casulos, mergulhado em conchas, preso
à minha essencialíssima beleza de pensar...

Eis-me: reviro meus jeitos e mudo as dobradiças!
Pontuo: estou recriando o cenário!

luminárias

a Zander



Olhe o sol,
vaza do teu olhar,
com que luz:
luminária!

Vem de lá
como vêm as marés
chega líquida
para lavar teus pés!

Outrora, nos jornais,
o tempo meio inteiro
consentiu se acabar
em poesias de janeiro!

Olhe o céu,
deita em teu olhar
nuvens tão baixas
outras quiçá

deitam em paixões,
cheiram âmbar
e o sol virando lá
do teu olhar, luminações.





um poema antigo, um poema para o passado, um poema de como antes se escrevia, um poema de ver o mundo distante, com certas luzes!

pequeno delicado fragmento de um dialogo

(...)

- Sabe a causa disso tudo? Temores meu caro, temores! Ademais suspeito também de egoísmos e excentricidades.
- Mesmo no amor?
- Oh,oh, oh... No amor então que existem. A posse e a pose, um sem o outro jamais dará muita coisa. Primeiro a sensação de possuir, depois a imagem diante do mundo. Temores de nada ser, de nada ter, de nada crer... temores meu caro!
- A amizade é mais pura.
- A amizade é tão impura quanto a paixão! O único, talvez, possível de nobreza é a adoração: puro, límpido, constante. Os reis têm súditos, os mitos têm adoradores! Os mitos traduzem os próprios egoísmos em nossos egoísmos, qual Narciso! Eis a causa disso! Ademais, tenho fracassos: sou como eles e vocês, meu caro! Um temeroso entre outros!

(...)

segunda-feira, outubro 13, 2008

pelos sentimentos!

Não te posso guardar em segredo
nem posso teus vestígios mostrar por aí.
Tuas unhas vermelhas de amoras e sangue,
teus dentes marcados na textura do ombro,
teus seios nús em meus abraços,
tua boca a minha boca amalgamada,
teu corpo envolvendo o meu corpo:
és como as tempestades do entardecer
que nunca se anunciam
e és como um tesouro antigo
que levo dentro do bolso
perto dos sentimentos!

sexta-feira, outubro 10, 2008

pequenina menina JANIS

...






pequenina menina Janis
que canta o infindo cósmico,
a voz tua, que desnuda em mim
atua, aflora entre
Hell's Angels, Cheep Thrills
e sussurra,
sonora ardentemente, um trecho de um blues.

pequenina Janis
que num canto alcança os meus cantos:
quem me dera ser
tão bom quanto foste intensa para este mundo.
teus grandes irmãos
em grandes nações
dizem teus olhos insconstantes
como vidraças protegendo os segredos
desvendados na mortalidade das noites de depois.

ah, pequenina!
um grito à presença de teu nome,
ao teu sorriso aberto de tempos de verão.
talvez dirias
que necessitas de uma canção para amar,
entre tantas canções de solidão e dor,
que necessitas de uma canção para amar,
somente uma canção, como antes
e um coração a ouvir
o teu simples complexo Kozmic Blues!