quinta-feira, dezembro 30, 2010

pequena crônica poética

O caminho de casa,
pela orla da lagoa,
as sandálias de borracha,
um olhar que não tem destino,
passo a passo vou embora,
pelo passeio molhado e vez ou outra
atravesso as ruas molhadas
que sempre me atravessam desde a infância.
Passo pelo prédio do Iporanga,
olho mais a frente
( Saulo deve estar trabalhando!)
É um Coutinho, deveras é um Coutinho,
só não me lembro o nome dele,
pergunto a ele sobre música,
se ainda canta, se ainda toca violão,
pergunto por Zander, falo do tempo,
(essa chuva que não cessa)
desejo um feliz 2011
que talvez nem seja um ano feliz.
Sigo conversando sozinho,
de cabeça baixa,
uma de minhas sandálias arrebenta,
uso do improviso para seguir,
Um palhaço de cara borrada me diz boa tarde:
- Boa tarde!
Eu respondo: eeei!
Ele sorri e se vai.
Eu me vou também até em casa
sem maiores incidentes
e penso:
apesar da sandália perdida, fiz um palhaço sorrir
e fiquei feliz! Feliz pelo caminho!
Feliz por poder sorrir!

sábado, outubro 09, 2010

a palavra tempo, a coisa homem!

O poeta me disse, certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar. A palavra tempo traz a espera do homem de que se há de servir para o presente. A presente é outra que não se ilumina de um só movimento, mas desfaz amarras e anuncia os passos do dia.

Os passos indicam que o corpo segue, segue uma linha tênue entre o caminho e as indicações provisórias da escolha.

O desvio também é uma escolha, um improviso da reta, registra a mudança de lado, o olhar de outra maneira. Seguir o desvio é um risco que nos atrevemos, o improviso que tememos deter certo cálculo.


Há certas provocações que limitam as contravenções do caminho. Nem todos desafiam os muros que cercam o horizonte, muitos os tem como um costume imperativo e necessário, outros os desejam como um sentido abstrato de resistência ao tempo.

O tempo... O tempo do homem e seus ponteiros não obedecem ao pulsar do corpo.

Não é o tempo das coisas, das árvores, das raízes, das folhas e flores e suas estações.

Guia-se pela dança solar de suas insinuações de claridade e sombrias confluências.

O tempo que me acusam merecer não se desvia de tantas estações, não se esfacela no silêncio das mãos.

Teimo as mãos que não cunham os caminhos, domam os como doma a terra entre os dedos, o homem.

O homem se compõe de naturezas, seus olhos permeiam as folhas e suas fotossínteses. O verde da relva desconstrói o cinza que o homem edifica.

O verde se desculpa da luz e a luz colore os dias. O sol, eu sei, desconhece esse murmúrio da arte.

Essa arte de umedecer os olhos, desabilitar as dores, secar os lábios, acelerar o pulso das coisas.

As coisas se confundem às paisagens que suspeitam. Estão dentro, ante, distante, amalgamadas em proporções ambíguas.

É assim que a vida se abre à vida. As janelas se abrem, as luzes se abrem, os livros se abrem, as literaturas se abrem, a palavra se abre e tudo mais se descobre entregue ao impossível.

O pensamento se abre no silêncio de uma lembrança, a imaginação permeia os sonhos e o corpo desliza sentimentos sem ou com poesia. O pensamento é uma poesia do improvável.

Presto minh’alma num movimento
Que está tão perto e está tão longe.
Nele um taciturno vazio se esconde
Que um dia ousei deitar ao vento.


As mãos se rendem à palavra como se se rendessem à terra. Dedilham com delicada ausência a extensão de sua textura. Arriscam maneiras de envolvê-la, imprimem com cuidado suas digitais.

O tempo é a paisagem do homem, é como um palco que espera o ator e sua emoção despida.

O tempo é a paisagem que repousa no homem e o homem repousa no tempo e o homem repousa o tempo, mas o tempo jamais adormece ao homem.

Só o olhar se encontra no invisível. Só o olhar torna o sentido palpável. Os olhos são as janelas do mundo. Só os olhos percebem o escuro do instante.

Nesse escuro tudo é essência e superficialidade. Para consenti-la descuidamos das estrelas e suas sombras a espera da manhã e suas iluminações.

A palavra tempo, à luz do dia, permeia cores altas, a escrita é coisa de contraste. É igual ao homem e os seus caminhos, sempre dispostos entre opostos.

A coisa homem abre as suas janelas às coisas outras e se desfaz em si mesmo para deslizar pelo feitiço de seus silêncios e de seus ruídos. Do tempo e do homem nasce o destino.


quinta-feira, setembro 16, 2010

política poética





Pois que meu verso
tem que ser maior
que os teus versos?
que o teu erário?

Serias e o teu universo
que colorem o meu imaginário?

Qual movimento surdo
darias aos meus olhos
de brincador de amor errante?
de insignificante operário?

Estarias e o teu inverso
manifestando delicados relicários?

permanecidos

Eu permaneço,
quando em tempestades
tudo é água!


Você permanece
quando em labaredas
tudo queima!


Eles permanecem
quando evitam
fogos e chuvas!



 



terça-feira, setembro 07, 2010

virações desses tempos

As partículas do universo teimam virações no verso,
a cerveja comum muda de cor,
novas canções adoçam as noites amargas,
um simples filme desequilibra o coração,
um velho poema se despe tão surpreendente,
um par de óculos desentorta a visão,
o que era sim e agora é não,
até o amor ousa uma pirueta,
uma nova casa precisa novas cores,
aquele parque de antes se queima ante o ocaso,
os conceitos, os conceitos são tão mutáveis,
e já só estas coisas são sinceramente únicas de sentido:
teu sorriso num dia taciturno
e Theo sonhando desconhecimentos de água
molhando pequenas porções de amanhã!

sábado, agosto 28, 2010

imemorial

Não nos lembraremos da noite

em que o encontro fora breve:

há outro motivo na liberdade,

esquecer o que talvez esteja distante

de repousar silencioso

e vaga no espaço.



Não nos lembraremos do cansaço

que havia depois da trilha, na chegada:

há uma cidade aos pés doloridos,

sistemas ópticos coloridos

de iludir as sombras

do último trago de vinho.



Não nos lembraremos da velha redoma

que vestia roupas rotas e delgadas:

eis que o tempo descolore as fotografias

que sacamos de nós em cada curva

da estrada.



Não nos lembraremos do álbum desfeito,

do copo vazio, do canto calado, da madrugada

nos botecos: prolongando o encontro, a palavra.

Esqueceremos cada dia e em cada dia

esqueceremos-nos, esse dia esquecido como tantos

e seremos os possíveis amigos de outro tempo.



O tempo... esqueceremos o tempo, não lembraremos

se é que fomos ou estamos ou seremos...

palavra escorrendo, palavra lava

que queima, que brasa, que lavra

o corpo que é nada!

Entretanto a lua é cheia, a noite é fria, a taça está plena

e brindamos, brindamos, brindamos levemente

ao momento que somos:

inesperado!

sexta-feira, julho 23, 2010

meto-me em rascunhos

De primeiro topei com figuras estranhas
que mal se sabiam prováveis.

Depois, com certo tempo desprendido,
eu tive uma gestação de enganos
que me legou algumas privações da arte.

Agora estou com um pé cá, outro lá.
Deixei de picardia, olhei para os lados:
não teço grafias de reconhecimento!

Apesar dessas crônicas policiais, dessas matérias frias
o meu mundo só se percebe na poesia!

quarta-feira, julho 21, 2010

anúncios

Vida é improviso.
Morte, quem não verá?
Um traço traz riscos.
Noite amanhecerá.


Amor é imprescindível.
Ódio, uma variável
(corpo e pêlos atiçados)
vingando tempestades.


No poema pousa a vaidade.
Luminessências furtivas:
coisa estranha, tantos mitos.
A memória adormece
em prantos líquidos.




Divino sou eu,
pressuponho:
o sonho é um istmo!

biológico


                                                     kristyynablog.blogs.sapo.pt






Pés para o apoio da alma,
Mãos para tatear o infinito,
Membros para aconchegos
Tronco para prover vida
Crânio para gerência dos sonhos
Olhos para confundir essências
Boca para ser boca
Boca para o próximo, para romper o silêncio, para provar texturas...

Respira com calma:
corpo!

domingo, julho 04, 2010

Gravitações

Num entulho de sonhos
um poeta perdido
encontra algum seu poema antigo

entre restos de um dia
aquela caligrafia
no branco sujo do tempo


um momento de olhos
uma gota de óleo
deslizando num rio

e a lembrança tardia
que a velha poesia
entendeu sobre o vento!

quinta-feira, julho 01, 2010

dialogismo

nessa peleja vai-se bem ou vai-se mal
se tem tinta pinta a casa, se não tem queima com cal.
Tem propriedade que tem seu diferencial
mais ainda assim vem em metades, tipo um punhal.
alimento que não basta não tempera só com sal.
se tem peito pede outro, se não tem, um luftal
O querer não é restrito ao pensamento racional.
muito antes era a pedra, pouco agora, animal.
meta: conquistar a indivisível amplitude universal.
ou você tenta o mundo inteiro, ou você fica com o quintal.

sábado, junho 19, 2010

a Jose Saramago

Agora vais por aí! Encerro as mãos nalguma qualquer palavra tua, como uma palavra pronta às manhãs daquele que desde antes se perdeu e se encontrou tecendo sons, moldando sombras, cosendo ideias, deito os olhos em tua conversa afiada, tua política de cenários, tua matéria pulsando em ti e pressinto um susto de que vais, vais ao teu pensamento e no teu pensamento há um coração que ainda suspeita esse fervor, essa guerra que avança sobre o terno, nos teus óculos, nas tuas mãos barrocas, na tua cegueira, na tua razão, nos teus avisos, nos teus delírios, no teu egoísmo, no teu amor com o teu amor, no teu ódio com o teu ódio, vais por outro fado, por outro fardo, vais a forra com teu mais caduco amigo, com teu mais febril inimigo, com a palavra ao seu posto vais com a voz precisa romper a renúncia do curso, do discurso que se desprende afoito entre os lábios retos, com a lembrança de tua nuvem preferida, o verso de teus vazios, vais com teu desatino que fico um pouco com o teu Caim, já que sei seguirás à sempre porção de atrito que te tem adormecido em todas as horas dispersas e te tem despertado em gestos de poesia para as tuas mais delicadas sintaxes a que tenhas a caligrafia de seres que descuidamos reconhecer danos nos nossos passos, certas vertigens de depois, anúncios de desilusões, mas tua literatura dança a eterna música da alma; vais tua vida? não, a tua vida fica junto à vida da menina de cachecol, perto das dobras de Lisboa, no ventre do nascituro, entre tantas outras e outras e outras vidas que não deve ser a verdadeira verdade verdadeira essa tua derradeira palavra em que minhas mãos se postam.

terça-feira, junho 15, 2010

fragmentos

Como dizer ao pensamento: deixe-me um pouco
sobre o momento mais distante do horizonte!

...

Nesses traços deixe-me um vulto, sombra somente, imprecisa...
não quero nenhum descuidado dado aos meus olhos de amor!

domingo, junho 13, 2010

amor lunar

As folhas caem da lua,
de suas grandes árvores,
de suas florestas confusas.

O amor dorme baixinho
enrolada entre panos de inverno
e no coração bate sonhando.

Minha boca arrisca cantar
a alma de minha voz
e as folhas caem adormecidas!

terça-feira, junho 08, 2010

certo tempo

Certo tempo, não verso,
não lanço à luz
as velhas sombras.
Tempo
o amor desliza
o tato
aquecendo
os derradeiros ventos
do outono,
algum enlaço
de braços
envolvendo o coração
ao inverno
então
o verso
penetra o corpo
lentamente
e não se atreve
delicadamente
se afastar do beijo
e a folha
em branco espera
romper o silêncio!

segunda-feira, maio 10, 2010

pelo dia

talvez seja mesmo assim,
em silêncio,
sem mesmos olhos,
perto demais da casa verde,
preso em outro tempo,
triste
com todo o peso do mundo
nas costa,
culpado de tudo
pequeno em seu diminutivo,
cansado,
contudo, domado pelo coração
vestido de alma e sonhos
o homem segue!

sábado, maio 08, 2010

como outra madrugada

tornar em ser o esquecido
talvez o antigamente de olhar o céu da madrugada,
do canto escuro
no frio abraço do muro
outra vez iluminar o quintal
(no qual adolescia)
com traços de vagalume.

abrir o olhar, fechar então,
repetidos segundos de voo
entre as folhas escurecidas,
sobre o chão escurecido,
pousar por certas nuvens
por precisos silêncios
que alguns deixam ao sono
e, contudo, do canto escuro
da noite antiga
repousar
na remida laranjeira
um sonho adormecido
enquanto ao longe despendem as estrelas
e o sol imagina
uma manhã com novas asas!

sexta-feira, abril 30, 2010

resistência

Somente a palavra no branco do dia
sem qualquer geografia, qualquer horizonte,
sem uma nuvem de depois, algum extinto ontem:
um sopro repleto de poesia.

Somente um olhar sobre uma taquicardia,
distante de toda esperança que se despedaça,
longe dos desfechos da última desgraça:
um golpe tenaz na hora tardia.

Somente uma resposta à melancolia,
um riso de espanto, um vão pelo escuro,
um grito ao eco, um salto sobre o muro:
somente a palavra que não silencia!

sábado, abril 24, 2010

o Belo Monte

As águas do Xingu dobrarão aos pés de um Elefante Branco
da era dos sonhos infantis,
continuando a obra mortal dos colonizadores,
tirando dos índios o restos de seus penhores,
destituindo o direito do seu lar.
Um triste delírio de um homem torto
que se diz representante de um pobre povo
que não tem mais armas para lutar.
Eu sabia, não se deve acreditar em certos homens
que vivem do trabalho dos outros,
que se dizem patriotas e homens de direito
da soberania de uma nação.
E tudo por causa da ganância desenfreada
de fazer história sobre a ignorância alheia
inundando pequenas aldeias de homens que não votarão.
Sinto ter que declarar que o meu presidente
não passa de um delinquente que usa uma figura mentirosa do passado
para justificar seus presentes atos
sem aceitar que qualquer um o venha criticar.
Essa democratura, iniciada pelo golpe militar
perpetua escancarada nas mãos aluidas
de um hipócrita fantoche a governar.
Belo Monte se vai na triste vontade de um lunático
eu sinto muito pelo o que lhe vai acontecer...

terça-feira, abril 20, 2010

para respirar

Nas últimas horas do dia,
nos próximos minutos da manhã,
segundos adentro da noite:
qualquer momento que não tenha teu cheiro,
falta-me o oxigênio de todos os caminhos.


Por anos e anos seguidos,
há décadas de mesmas precariedades,
desde que vivo perambulo por datas:
espero por teu toque ainda agora,
senão me falta os caminhos para respirar!

Depois de ti...

Depois de ouvir a tua voz
qualquer canção
é um acompanhamento
para o coração
ouvir o universo sussurrar!

Depois de te olhar
qualquer imaginação
é uma simples força
da ilusão
querendo o universo alcançar!

Depois de te amar
tanta paixão
é um requinte da alma
ante criação
mirar Deus no teu sonhar!

quarta-feira, abril 14, 2010

em protesto

Mudou-se o rumo da convicção
e a palavra ardeu na boca.

Dobrou-se a voz à febril miséria
das taciturnas ideias enganadas.

Mentiu-se, então, toda verdade
aos olhos do discurso deflorado.

Voltou-se ao não do curso proclamado
nos olhos dos pares margeados.

Remiu-se o incrédulo momentâneo
do presente que ora se fez nulo.

Postou-se pleno e destemido
mas passou em dedos autárquicos.

Negou-se a figura do semelhante
que avante luta pelos desvalidos.

Ateu-se à corja dos mal vistos
por favores de nome e costume.

Bastou-se apenas pelo poderio
de um persona sem intuito.

Afastou-se d’outros tantos confluentes
que outrora celebrara amigos.

Consumiu-se em esmo devaneio
como algum qualquer político.

sábado, março 27, 2010

tempo-pássaro

onde o tempo voa
soa meio tempo

de uma nota e meia
que volta e meia nota

o tom da valsa
o compasso do voo

revolta da farsa
faz o vento que voa!

Antídoto (em nova edição)

Mudo se fala,
arquétipo do impuro
como se um nada
não fosse um tudo,
às cinzas de um aspecto,
apenas uma mortalha.

Qualquer nenhum discurso,
um curso no abismo,
uma muda de certo surto,
ambíguo como um antídoto,
pérfido como um afeto,
reto e um tanto curvo!

quinta-feira, março 25, 2010

meu

Pague dois, leve um,
diga não ao sim,
vai por mim
promoção
nada ou nenhum.

Deixe à mão outrossim,
lance o corpo ao vão,
ou senão
tente enfim
não fechar os olhos assim.

segunda-feira, março 01, 2010

em quieta ação

A pele sob o pêlo
peleja contra o frio.
O medo do rascunho
reter o raciocínio,
rejeita o teu segredo
retifica meu destino.


A miséria se revela
e vela a vitrine.
O erro do inverno,
o espirro contra o vidro.
O cheiro do silêncio
anestesia o improviso.


O medo é um desejo que se esconde,
pisa o mato não sei onde...
Embriagada paira a luz no horizonte...
-Onde estás que não responde?


A alma se desfarsa
na farsa que é o corpo.
A busca do motivo
que dissolve o desconforto,
a dúvida do discurso
no impulso de um louco.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Cidade estranha

Aonde tardar um novo sonho
ao ver luzes e vozes?
O palco vazio não contenta
a palavra além de si destemida,
nem teme o gesto emoldurado.
Calar, se for pecado, ideias
que atentam o pensamento,
paralisar o movimento atrevido
que precisa a arte.
Quem grita contra o grito,
quem silencia o silêncio?
Neste lugar não há um lugar
que aceite o meu corpo alterado,
que aceite a tentativa do indizível.
Cá não cabe o que se espreita,
cidade que rejeita o sentimento
em versos.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

o que se esvaí no pensamento!

O que se esvaí no pensamento
quando se faz quaisquer silêncios?
Quando o olhar vai pelo chão
lambendo as pedras de imagens vagas
e todos os passos, nenhum, vagam
por um desvão anterior à névoa pretérita,
o que se desfaz espraiado pelo caminho?
E quando se firma algum raciocínio?
O que se esvaí como a manhã de uma ideia,
o que se deixa sobre a noite
que não amanhece no tempo
e nascituramente medra um fruto futuro?

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Um poema de Adrienne Rich

eu gosto do meu corpo quando é com o seu
corpo. É então completamente uma nova coisa.
Os músculos melhoram e os nervos mais.
eu gosto de seu corpo. eu gosto do que faz,
eu gosto de como faz. eu gosto de sentir a espinha
de seu corpo e seus ossos, e do tremor-
firmescorregadiamente que eu
novamente, novamente, novamente
beijaria, eu gosto de beijar esta e aquela de você,
eu gosto, lentamente acariciando a, acariciando a penugem
de sua pele elétrica, e o-que-é vindo
novamente anular a carne...
e os grandes olhos de amoresfarelado,
e possivelmente eu gosto da sensação
de você debaixo de mim então completamente nova.



(tradução: Ricardo Aquino)

domingo, janeiro 31, 2010

minimalismos sofistas

Não minta o mundo com tantas fórmulas,
enredos engendrados em soberba de classe,
maculados de tradições de animus
e nenhum progresso de confrarias.
Não há direito sem prerrogativa!
Os partidos repartem os homens
e alguns acham belo o crescimento econômico
acreditando que ascendem socialmente.
A língua aproxima e afasta,
à tecnologia digital não basta a palavra,
meu coração bate e rebate como máquina...
(imagine uma aranha voando e pousando na vidraça!)
Tudo que é criação ultrapassa
e além desagrega a realidade:
"só a imaginação pode chegar perto da verdade!"

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Fale com minha mão

Quando ao tempo da raiva se esquiva
no tropeço da noite e do dia,
tipo passos na escuridão.
Vem na nebula, cabuloso prisma,
vem rasgando vingança e cisma:
reta entortando a razão!


Não quer teimar olho a olho,
palavra então teima em vão,
caso ao verdugo o revolto:
fale com minha mão!


A dicção é precária e supre
a ilusão da ilusão que a ilude
na manufatura do cão.
Deita a errata à mingua do erro,
às unhas que limam o desespero
do golpe da divisão.


Não quer teimar olho a olho,
palavra então teima em vão,
caso ao verdugo o revolto:
fale com minha mão!

sexta-feira, janeiro 01, 2010

olhar distante de antes

Tenho a sua idade, descalço na rua de minha criança eu creio que crio.
Meu pai me olha de longe, de longe a porta aberta e as janelas abertas e seus olhos abertos, os olhos de meu pai, de meu pai que está longe e seus olhos estão tão perto da minha volta em tudo que envolve em minha criança.
Minha mãe chega mais perto e me traz pela mão: "cresce pequeno, não há que faça dessas coisas de inventar imaginações."
Invento. Não entendo muito, tenho sua idade... acho que passos tenho tantos,
só que olhos, aprendi, não podem envelhecer!