sexta-feira, agosto 29, 2008

Colocações sem guia

por que meus passos maculam as pedras
e três vezes o silêncio se fez poeira,
por que na última noite não veio o sonho
e se calou gritos e gritos de festejo.


por que meu canto num distante arpejo
selou as trincas cristalinas da madrugada
e entre estrelas gregas esquartejadas
o mito do poema de um homem nascituro.

por que aqueles versos ditavam futuros
e aquelas mãos trêmulas passados sentiam,
por que não era possível o renascimento
enquanto só o tempo tremulava na caligrafia.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Basta

...


Não escrevo sobre guerras senhores veteranos da última batalha,
não almejo nenhuma de suas medalhas,
suas lembrança de semelhantes, mortos em nome da glória.
Não escrevo sobre os desafios de subjulgar um outro povo,
não desejo dominar o território alheio ao meu solo.
Há muito não sustento as fronteiras,
não dissemino o ódio das bandeira, mas ainda guardo as minhas reservas.
Tenho meus medos, sim!
Tenho minhas horas de dor e vazio, sim!
Quase nunca fecho os olhos em alerta!
Mas de cá não toco armas, não aponto fogo à minha raça.
Eu canto, não o egoísmo e a maldade,
mas o erro e a busca.
Talvez por isso não encontre mais o seus verbos em meus signos,
não vê mais a sua ira em minhas cores.

Cada disputa é devida à mera conduta!

Retire suas tropas, liberte seus soldados!
Do alto de suas salas,
de suas poltronas acochoadas
e condicionadores de ar,
a dor das trincheiras e os seus odores parecem um jogo!
Senhores veteranos da última batalha, sobreviventes...
basta de armas,
basta de guerras!


...

segunda-feira, agosto 25, 2008

... enfim!

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Para aquele assunto
chato e perverso
eu tenho dois movimentos:
um contrário
outro inverso!


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domingo, agosto 24, 2008

Estranhamente hoje

Dia estranho este hoje!
Com pausas caladas,
com palavras de guerra e desencanto.
Dia de pensar nas dobras,
nas obras feitas cá dentro,
nas esculturas, nas pinturas,
nos retoques de bustos antigos.
Dia de morrer distante de tudo
e nascer mais forte perto dos amores.
Dia estranho este hoje!
Com passados tentando presentes,
com órbitas dobrando sonhos,
com raivas e ódios e pequenas maldades.
Dia de limar esses excessos do corpo,
de retirar restos e proporções.
Dia para esquecer e lembrar e esquecer...
Nesses dias que se educa o pensamento:
se não couber, lança ao vento!

sexta-feira, agosto 22, 2008

e a culpa é sua

Tenho tido dias mágicos, quando ouço sua voz os lábios abrem. Tenho tido mais coragem e mais trato com o mundo ao meu redor, ao meu espaço. Tenho tido a maldade necessária para fazer o bem aos desavisados, tenho feito planos para os pés e escrito com a cabeça nas nuvens. Tenho imaginado dias melhores,tenho feito melhores dias em mim. Tenho pensado em você horas a fio,tenho em desafio me desafiado a ir além. Tenho configurado gráficos possíveis,tenho feito o impossível sem saber. Tenho conquistado o respeito da poesia pois que tenho dado a ela a verdade. Tenho decerto tentado o certo e ao erro, tenho traçado movimentos circunflexos.

quarta-feira, agosto 20, 2008

à moda de C.D.A.

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Bom dia!Bom dia! Ele dizia
aos quatro ventos da esquina,
dos cruzamentos das vias,
às arvores agitando os galhos,
ao balé dos pássaros
e ao colorido que o sol imprime nos muros!
Bom dia! Ele dizia
ao homem calado,
à mulher que discursa um resumo
da telenovela, do jogo, do filme...
às crianças indo para escola,
aos que nascituros homens alados.
Bom dia!
Mas se não for um dia bom
ele dirá: bom dia!
E a poesia se fará
como há muito se fez o dia!
Bom dia!Ele sorri,
mas o sorriso é antes distante,
é um pensamento distante,
é um mar de lembranças de amar recente,
é um abraço desconcertante e ardente,
é um toque, quiçá um retoque fremente
no corpo febril e temente,
um ar de quem vai consentir sonhar
conchas de papel, cristais de amanhecer.
Ele quer dizer: Bom dia!
Somente para você!



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segunda-feira, agosto 18, 2008

.#.

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Meus irmãos estão lá fora
como a água e a terra e o fogo das guerras,
todos estão em seus movimentos e em suas inquietações.
Aqueles que não se debruçam sobre segredos,
não têm mortes,
não têm vidas,
são previsões partidas, pedaços de um espelho
que não reflete nada além da imagem
que se quer refletir.
É um fio, um fio espesso, um fio tenso
tirado do novelo e enrolado no dedo,
contudo e com medo. Meus irmãos!
Eles sentem medo sim,
sentem o frio das madrugadas frias,
o calor da ondas febris,
a dor interminável das separações!

Meus irmãos estão aqui dentro também,
como o sangue no pulso, como os impulsos cardíacos do curso,
estão entre raivosos discursos,
declarações de amor e amizade
(amizade nunca se declara!),
sins e nãos entrecortados de metáforas.
Eles estão em frases curtas e disputas de religião(?),
em instantes de descrença e de satisfação,
em discussões políticas e concordâncias ideológicas,
estão entre o silêncio e o sermão.
Não sabem, nunca saberão, o quanto nos parecemos
com suave distinção,
a quanto vale os nossos encontros
em perfeita solidão,
por que ainda somos irmãos!


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quinta-feira, agosto 14, 2008

"Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para a fogueira." l. tolstói

nós

foto: www.michellemartins.files.wordpress.com


Somos duas cordas, dois cordões, duas linhas
que se emaranham, que se amalgamam, que se envolvem
como se fossem, como se buscassem, como se quisessem
ser do mesmo modo, ser do mesmo feitio, ser do mesmo o outro
e somos seres e somos coisas e somos jeitos
como são as correntes, os cabos, os fios
quando se unem, se juntam, se interam
em nós, como nós somos, nós!

quinta-feira, agosto 07, 2008

a pessoa no presente

- Sou eu!

Digo que não é o caso de uma absoluta desordem interna.
- Sou eu!

Ao contrário: roupas, pápeis distintos, cartões de visitas, livros diversos, fitas, lembranças amarelas, velhos convites, presentes pretéritos, novas fontes, catálogos, encomendas, fotografias, folders,poemas avulsos, maço de cartas, canetas, borrachas, réguas, lápis, perfumes, cosméticos, remédios nunca usados... tudo está alinhado!
- Sou eu!

Tempo para os amigos, tempo para os amores, tempo para as leituras, tempo para a criação, tempo para os documentários, tempo para um bom cinema, tempo para o Luck, tempo para meus pais, tempo para meu tempo, tempo...
- Sou eu!

Sinto que hei de me desfazer em mim sem trancas, sem amarras, sem elos, sem cordas a equilibrar, sem cálculos, sem métrica...
Agora, mais do que nunca: sou eu!

quarta-feira, agosto 06, 2008

as luminárias e suas luminações


foto do site www.33d.com.br




Ah! Venham-me as luzes
pois mesmo a noite nenhum escuro
poderá!

Ah! Venham-me as estrelas
pois pela noite qualquer distante
reinará!

Ah! Venham-me as luminárias
pois mesmo a noite neste quarto
tombará!

Ah! Venham-me as velas
pois pela noite nenhum vento
precipitará!

Ah! venham-me as idéias
pois a mesma réplica luz
será!

Ah! Venha-me a manha
pois pelas manhãs iluminações
transcenderá!

terça-feira, agosto 05, 2008

São as ruas de João Pessoa



O sol nasce primeiro em seus dias.
Estas pedras iluminadas são as ruas de João Pessoa.
Estas praças que verdejam cada olhar que passa,
também respiram em meus pulmões.
E nas areias claras do Bessa,
e nas ressacas do Tambaú,
e na orientalidade do Bessa,
e na voluptosa curva do Cabo Branco,
ou no Sol deixando bronze a pele:
tudo aqui é ternura!
Se fala um bom português, canta
um sonho mais forte e se a noite vem,
um sopro de um sax conduz o sol ao descanso
tingindo as águas com seu crepúsculo.
Ah, João Pessoa! Um dia dormirei ao seu luar:
ao seu verão e ao seu inverno.
Quem sabe um dia eu seja seu morador mirante,
entre suas matas e suas ruas!
Quem saberá!

segunda-feira, agosto 04, 2008

um poema de janeiro de 2007

Um ano depois de você
alguma coisa medrou.
Certas questões foram comprometidas,
outras estão melhor entendidas.
Tenho aprendido a amar com alma e corpo:
equilibrando essas diferenças!
Passei um ano sem escrever qualquer poema.
Registrei alguns começos, outros
nem sei quantos foram silenciosamente
adormecidos.
Nesse momento, luto contra o pó depois do passo.
Assim, tenho me tornado uma pessoa melhor
(o mundo que resulte dela)
Tentarei não falar certas coisas,
principalmente sobre mim. Nada
de segredos! Somente posições caladas.
E para que nunca saibam,
você existe!

sexta-feira, agosto 01, 2008

.determinações imprecisas.

Uma régua, feita a medir,
uma regra, posta a quebrar.

Um sintoma, sinto que perdi,
um sistema, sempre a declinar.

Um traço, forma a desnudar,
um ponto, finda a recobrir.

Uma fenda, rocha a penar,
uma brecha, rio a fluir.