segunda-feira, outubro 10, 2016

sempre








Ao caminhar pela noite
o homem solitário pensa
que de todas as possibilidades
ele é a mais remota.
A sua rua é torta,
o seu passo é confuso
e quando alguém se apressa
em ter com ele
algumas palavras de protesto,
ele sussurra a sua canção
misteriosa,
ele sorri em seu silêncio,
ele se encolhe em seu vazio.
Não é solitário, está por aí.
Certamente não olha
as janelas das casas,
não se atira sobre as salas,
às varandas, pelas portas.
Seu gesto é contido,
embriagado de censura
vaga entre ilusões passageiras.
Precisa ser livre, mas está preso
aos costumes,
às estrelas e às suas lendas.
Precisa do grito,
da força,
de asas.
Se cruzam o seu caminho:
(e sempre cruzam)
há de notar todo olhar
com certo jeito vadio:
ainda é criança, criança é ainda ademais.
Conversa com o poste da esquina,
fala de amor em palavras perdidas,
engole artigos suspeitos
e rasga o peito, o chão:
seu riso é lágrima!
A noite é triste para esse ser
esquecido nas ruas, nas praças de outrora!
e quase sempre ele ri!
e quase sempre ele chora!
quase sempre ele sempre
caminha sonhando e sorrindo...

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