terça-feira, dezembro 10, 2013

o sonho (mensagem de nuvens)




Noturno entre foscas luzes,
tremor desfigurante de uma lenda.
Você me percebe perdido na sombra
                                                      da melodia
e eu percebo em seus lábios a flor proibida.
Tudo se faz confuso:
não há paisagem fixa,
o tempo nos aproxima,
a razão jorra em nós um líquido inflamável
e queimamos o coração ao nos ocultarmos.
Ouço vozes submersas,
esbarro em seres soturnos
no vazio que sabem da noite.

Nunca houve tempo para o nunca!

Encosto em você meu sempre,
você sussurra ferozmente em mim
belas palavras proibidas
e em seus braços uma estrela amanhece neutra
virgem e pura: uma escultura,
                                            você!
Ah! Neste meu olhar não há limites sobre seu olhar.
Devagar eu lhe beijo a flor encarnada,
como um derradeiro soluço de vida,
como se o corpo já fosse algo mais que um corpo.
Demoro meus lábios em seus lábios,
resgato em sua nuca um desejo.
Levemente escorro as mãos
vértebra por vértebra.
Ouso desmembrar a sua espera,
morro trôpego em sua carne.
Nos encontramos recostados na sinuca,
você com os olhos fechados, a boca seca
e eu com a boca no centro de sua loucura.
Sem alarme eu lhe desnudo,
tudo se apaga,
tudo se incendeia,
fogo que ilumina nossa clareira.
Não consigo distinguir suas palavras.
Talvez, diz procurar-me inteiro, minha essência
e eu procuro em você a minha existência.
Eu que imperial lhe chupo os seios,
percorro-lhe com mãos, dedos, olhos
e sinto-me indefeso
enquanto me rasga a alma com as unhas.
Ninguém sabe de nós?
Que nos condene não há um olhar?

À nossa volta  há um mundo anônimo
                                                         e paralítico.
Tanta fumaça que sufoca.
Não lhe perco!
Agarro em seu corpo
como se seu corpo nascesse em mim:
nos deitamos num anti-repouso frenético,
ditamos o ritmo cardíaco do mundo,
gememos sobre as nossa fronteiras.
Você me aceita e eu penetro em seu corpo
num extremado grito de silêncio.
Somos, então, o atrito de um desejo
que vaga entre os nossos olhos
e nos condensamos numa tensão intolerável
louca colossal demência.
Você me aperta contra a sua distância,
no findar de uma louca reentrância,
como se você não suportasse um segundo de ausência,
como se necessitasse unir nossos delírios
num último suspiro: fecundo!

...

e perco os sentidos sobre o seu sentido
e perco você para o destino
e o tempo me desperta:
Acordo banhado de seu suor! 





inverno de 2003

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