Resta um pouco de um resto açoitado
pelo vento que teima a afronta,
vem limpar a poeira do passado
e deixar o que realmente conta.
(...)
Eu concentro o meu centro no que faço,
eu mergulho na vida a minha pena,
eu seguro, eu aperto, faço o laço
e envergo a palavra no poema.
Eu descrevo, eu desejo, eu insisto,
tento romper sem vão o verso.
Vou aos poucos despindo-me de mitos
e deixando para trás velhos desertos.
Eu construo o escuro do segredo,
eu reclino o enigma do nada.
Estridente grito de medo,
eu sou feito de nuvens sonhadas.
E tudo que vejo e sinto
são teus olhos tristes e cansados
condenando-me, me ferindo,
desejando poemas queimados.
(...)
Calculado – noves fora nada –
o baú de estórias está vazio.
Recolha a última palavra
como o mar sutil acolhe o rio.
E o poema, então, adormecido
vingará quando o sol desvencilhar
o sonho: flor do abismo
que sangra sem estancar!
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