quarta-feira, junho 24, 2009

Lá de cima

Cá está a entrada
entre troncos mortos fincados na terra
a sustentar arames de farpas.
Não inaugures com teu passo
novos passos sobre o velho caminho,
a velha trilha de terra, de pedra, de areia
que subitamente te leva àquela serra.
Não penses um só passo
diante do adiante tão afoito
de novas curvas, de novos ramos debruçados
sobre um decline e outro,
de novas estratégias de caminhar
sempre em frente de presente.
Não lance tuas pegadas
pelas propriedades desconhecidas,
não pules esta cerca, este limiar de privações.
Não ouses avançar sobre a serra:
esse adorável relevo de proporções diversas
e suas veias secretas murmurando entre as rochas.
Não teimas tanto esforço sobre suas fendas,
não deites tanto suor nessa geografia,
nem tentes te elevar em movimentos bruscos.
Lá nada existe, é alto, é vago
e como diz o ditado tem outra serra em suas costas.
Se desejas isso, que venha e mire
esses desníveis e tudo que lá está longe.
Daqui os ventos se desfazem para tomarem todo vale,
os olhos seguem suas distâncias,
a boca grita ecos, o ar é mais frio
e os ventos voltam com mais força.
Lá está a porteira de teu atrevimento,
lá está o teu rastro, aquele teu caminho
e cá estás com teu cansaço, com tua sede,
com tua respiração trôpega, com teu espanto
e enfim podemos rir do alto, na serra.

Um comentário:

sblogonoff café disse...

Eu gosto de ler você.
Sua poesia de movimentos.