Foi perdida na confusa
procissão de desejos,
que você provoca em mim
que eu sonhei os dias
perfeitos.
Eu que senti nas mãos, no
toque, no cheiro,
no seu repouso em meu colo,
no seu desabafo,
o seu olhar excitado
pela palavra que nunca foi dita,
pelo longo momento tão breve,
pela distância inexata que
tínhamos de nossas fronteiras:
falamos línguas distintas,
vestimos costumes diversos;
somos amigos confessos
da promessa de um dia não
sermos
ou sermos além-coisas de um
mesmo verbo!
Mas, se não chegamos a sê-lo
(?),
sabemos (inconfessável)
que éramos distantes estrelas
em dispersa gravidade
e que (inconfessável) por
nada ou quase tudo
entreolhamos-nos em mútua
aquisição
e na mesma órbita quase
colidimos.
O que foi?
Eu tive medo,
medo de tocar-lhe com força
maior
que minha força,
medo de não ouvir meu nome em
seus lábios,
medo de ouvi-lo sem gesto de
zelo.
Atormenta-me a aparência que
o seu amor secreto
tem com a minha face
dolorida,
eu que olvidei os
descompassos do seu coração
e que não me debrucei em sua
sombra.
Então, foi o medo?
Não sofrer o sofrer do seu
gosto,
não perder-me e encontrar-me
em seu corpo?
Não tardar desvendar seu
segredo?
Foi perdida na confusão que
meu corpo celebra
que eu ocultei a minha
verdade proibida,
(o mau uso da palavra certa)
que lancei os olhos sobre o
nada,
que iludi as mãos que eram-me
aflitas.
Talvez, um dia,
como um raio que irrompe e
rompe
a mais negra nuvem da mais
negra tempestade,
eu lhe confesse o mais triste
segredo,
quando já não for um segredo.
Nada fica oculto sobre a
pele,
aos olhos que não se fecham
á alma que sela a dor de
amparar o amor
e não prová-lo:
as afinidades eletivas!
Você é exato o homem que me
atiça
e torna mais simples a minha
vida
e que move demônios
esquecidos.
É você, meu amigo-mais-que-amigo
(que dia!)
Inconfessável criança,
eu seria o tempo e o amor,
eu seria o seu melhor
brinquedo,
eu seria o seu maior pecado,
o seu erro e a sua anomalia.
Mas se eu pudesse (ter um
desejo de vida...)
viveria os últimos dias ao
seu lado...
Compreende nossa confusa
poesia?
Um comentário:
Duas estrelas errantes, famintas, carregando em suas quedas livres ao solo, promessas nunca cumpridas.
Das mais belas poesias ao conto daquela que contava fabulas das estrelas dos ceus, so porque -
diferentemente de nos - as estrelas Sao incontaveis e ainda guardam silenciosas em si, nossos inconfessaveis segredos, impedindo que nosso pior medo se solte e nos devore por inteiro...
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