sexta-feira, novembro 11, 2016

amigo-amor



Foi perdida na confusa procissão de desejos,
que você provoca em mim
que eu sonhei os dias perfeitos.
Eu que senti nas mãos, no toque, no cheiro,
no seu repouso em meu colo,
no seu desabafo,
o seu olhar excitado
pela palavra que nunca foi dita,
pelo longo momento tão breve,
pela distância inexata que tínhamos de nossas fronteiras:
falamos línguas distintas,
vestimos costumes diversos;
somos amigos confessos
da promessa de um dia não sermos
ou sermos além-coisas de um mesmo verbo!

Mas, se não chegamos a sê-lo (?),
sabemos (inconfessável)
que éramos distantes estrelas
em dispersa gravidade
e que (inconfessável) por nada ou quase tudo
entreolhamos-nos em mútua aquisição
e na mesma órbita quase colidimos.
O que foi?
Eu tive medo,
medo de tocar-lhe com força maior
que minha força,
medo de não ouvir meu nome em seus lábios,
medo de ouvi-lo sem gesto de zelo.

Atormenta-me a aparência que o seu amor secreto
tem com a minha face dolorida,
eu que olvidei os descompassos do seu coração
e que não me debrucei em sua sombra.
Então, foi o medo?
Não sofrer o sofrer do seu gosto,
não perder-me e encontrar-me em seu corpo?
Não tardar desvendar seu segredo?

Foi perdida na confusão que meu corpo celebra
que eu ocultei a minha verdade proibida,
(o mau uso da palavra certa)
que lancei os olhos sobre o nada,
que iludi as mãos que eram-me aflitas.
Talvez, um dia,
como um raio que irrompe e rompe
a mais negra nuvem da mais negra tempestade,
eu lhe confesse o mais triste segredo,
quando já não for um segredo.
Nada fica oculto sobre a pele,
aos olhos que não se fecham
á alma que sela a dor de amparar o amor
e não prová-lo:
as afinidades eletivas!

Você é exato o homem que me atiça
e torna mais simples a minha vida
e que move demônios esquecidos.
É você, meu amigo-mais-que-amigo
(que dia!)
Inconfessável criança,
eu seria o tempo e o amor,
eu seria o seu melhor brinquedo,
eu seria o seu maior pecado,
o seu erro e a sua anomalia.
Mas se eu pudesse (ter um desejo de vida...)
viveria os últimos dias ao seu lado...


Compreende nossa confusa poesia?

Um comentário:

Anônimo disse...

Duas estrelas errantes, famintas, carregando em suas quedas livres ao solo, promessas nunca cumpridas.
Das mais belas poesias ao conto daquela que contava fabulas das estrelas dos ceus, so porque -
diferentemente de nos - as estrelas Sao incontaveis e ainda guardam silenciosas em si, nossos inconfessaveis segredos, impedindo que nosso pior medo se solte e nos devore por inteiro...