quinta-feira, julho 17, 2008

deixando a fio

Há em mim um tecido,
um tecido fino que há algum tempo impregna os meus dias
com uma intensidade que é absurda.
Tentei arrancá-lo de mim:
não saiu nenhum pedaço.
Tentei cortá-lo em pedaços,
queimá-lo,tê-lo em cinzas,
bobagem: de nada adiantou.
Esse tecido é impermeável,
não deixa que sobre meu corpo avance
qualquer líquido futuro.
Cada vez que o tento retirar de mim,
mais me sufoca, mais me retira os movimentos.
Tenho dificuldades para escrever o mundo à minha volta,
cada volta do meu olhar se apruma em meus próprios limites
e esse tecido: deixei-me aprisionar!
A poesia é uma dor contínua:
o tecido não se apraz de minha escrita,
quer consumir tudo que eu fui e que ainda sou,
quer me levar ao limite do sofrimento,
quer me anular qualquer sentimento...
Mas eu sou neto de alfaiate:
descobri nesse tecido um fio solto
e espero que a cada dia eu consiga desfazer
as emendas, as ligaduras, os pontos.

2 comentários:

sblogonoff café disse...

Sabe, eu gostei muito desse aqui.
Existe o tecido que lhe traz a angústia e existe aquela coisa nata, neta, que possui nas trams e agulhas a solução!
Solução pra dissolver qualquer sólido futuro.
Porque somos líquidos!

alma livre disse...

Para mim a POESIA:
-vício bom!
-degradção natural!
-sentimento alinhado!
-minhas lágrimas!
-tratamento!
-meu bem!
-leitura de mim!

paz e poesia sempre...



OBS:alegrima maior é a minha por você me consumir nas palavras e me entender mais que qualquer pessoa que conviva comigo!!!
por você....TERNURA!!!