quinta-feira, outubro 17, 2013

à palavra

Ora, ora, se não és tu que me torna d'outrora,
de um dia mais azul ou menos azul?
Se não eis aqui e agora ao deleite inquieto
da saudade ou do remorso da presença?
Se, então, não sois um tremor algum em meus passos,
uma direção oscilante e um destino insólito?
Se não sois a própria extensão de meus olhos,
meu lance secreto com o olhar e o seu instante?

Embora tua presença não me falhe à memória,
és em tua ausência a ausência desse canto.
Meu silêncio pronuncia teus tantos nomes,
minha boca se apraz do som de tua retórica,
minhas mãos despertam à tua leveza insone,
meu corpo treme em tua natureza afora.
Tenho tantas estações desfeitas em ti,
e a mim te entregas entorpecidamente nova!

E agora, depois de tantas e tantas desnudas auroras,
vens me tirar o ar, vens me verter confuso,
vens desfazer tudo que decerto depositei
créditos e esperanças, ainda que tardias.
Decides em mim e por mim que hoje agora,
depois de dois ou sete goles de uma curtida,
depois de alguns tragos, algumas bolas, apareces assim
nascitura dos encantos de uma lisura poética!

Nenhum comentário: