segunda-feira, setembro 01, 2008

figura-fundo


stenographic figure (1942) - J. Pollock



sem reparar os reparos do seu olhar,
algumas mãos,
sem alguns toques,
nenhum retoque, retrato abstrato,
tudo é o seu nada
tão internamente precipitado,
que anulado o ato selvagem do criador angustiado
sobre o objeto criado,
o que resta não tem alma,
não tem corpo,
não tem rastro.
a angústia de um traço
imperfeito em seu espaço:
quão preciso seria um sol,
um mar,
escuros propícios e imediatos,
algumas ranhuras de alvo teor
e um tom de sangue entrecortado pelos carvões dos sonhos.
sem reparar os seus dedos a aparar
porções sem proporções desiguais desaguando
num trago amargo de bar
e noutras diluídas figurações,
nem pouco mar, um pouco vento
e tanto espanto
calando-se no canto
acinzentado
e .

2 comentários:

sblogonoff café disse...

Quão preciso seria um sol, um mar, um ônibus quase vazio em 2005 indo pra casa, onde as preocupações eram tão menos imprecisas...
A angústia não precisa impregnar em tudo, mas por algum descuido fica entre os dedos e sobre a palma.
Alguns dias são mais cinzas que os outros!

Saudades!

sblogonoff café disse...

Minha costura está apertada agora, mas preciso retornar.
Eu já dise que você escreve como se estivesse desenhando, né?!!
Eu amo isso!